sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Um romance alem do tempo

Seres como eu não gostam de ser vistos por humanos. Nossa obrigação é cuidar e proteger. Apenas isso. Claro que com o passar dos anos alguns de nossa espécie foram vistos por seres humanos e apenas por isso sabem que possuímos asas de oito metros cada e que a nossa beleza é extremamente irresistível. Somos proibidos de nos relacionar com os humanos, até por que os que fazem isso são punidos. Como disse, nossa obrigação é cuidar e proteger. E era isso que eu estava fazendo parada em uma noite chuvosa do outro lado da rua cuidando do meu protegido, Henry. O humano pelo qual eu teria que proteger e lhe ensinar o certo e o errado com pequenos sussurros em sua mente turbulenta. Sempre o levo de volta para sua casa quando ele sai do trabalho. Aquele velho prédio ao lado de uma cafeteria. Assim que ele atravessou a rua eu comecei segui-lo. Passamos por um beco onde tinha dois homens parados, senti logo de cara que estavam armados e drogados. Aquele cheiro forte de cocaína estava saindo por seus poros. O homem mais alto com uma cicatriz no rosto puxou Henry pelo braço e o arrastou pelo beco, mais que depressa sacou uma arma calibre 38 e encostou em sua cabeça enquanto o mais baixo gritava para que passasse o dinheiro. Henry deu tudo o que tinha e quando olhei acima de sua cabeça vi seu tempo de vida diminuir rápido de mais, eu sabia que o homem que segurava a arma iria atirar. Eu não poderia interferir na morte, mas eu não consegui. Sai das sombras. - Larguem ele. – mantive o capuz no rosto. - Vaza daqui menina ou vai levar tiro também. – disse o homem com cicatriz. - Tenta. Acho que você não vai atirar em ninguém sem isso. – e então a arma em sua mão voou para a minha. Eles ficaram assustados com o acontecido e saíram correndo. Henry caiu no chão com medo. Pude ver medo em seus olhos quando me olharam. Então tirei o capuz do rosto e então meus cabelos loiros ondulados caíram sobre meus ombros e meus olhos azuis reluziam na escuridão do beco. Eu nunca tinha chegado tão perto assim de um humano. Conseguia sentir seu cheiro... e cheirava a medo. Mas também tinha aquele cheiro forte de homem quando fica excitado. Ele me olhava apreensivo. Me olhava da mesma forma como eu o olhava. Como que se um de nós pudesse morder o outro. Até que tive a coragem de me erguer e estender a mão para que ele se apoiasse e levantasse. - Agora vamos. Vou leva-lo para casa. - Quem é você? – perguntou com medo. - Alguem que cuida de você apenas... – então o puxei pelo braço até chegarmos até seu apartamento. - Quem é você? – no que ele puxou meu casaco e o mesmo caiu no chão revelando minhas asas, Henry caiu sentado no corredor do prédio no terceiro andar. - Acho que agora já sabe. Agora vamos, entre. Entramos no apartamento. Ele se sentou no sofá e seu em uma cadeira logo a sua frente. Por um bom tempo ele apenas me olhava. Me analisava. E eu cada vez mais ficava preocupada. Humanos normalmente quando se deparam com um Anjo, tendem a se apaixonar. E o anjo por nunca ter conhecido os prazeres humanos acaba caindo em tentação e perdendo suas asas, deixando de ser um Anjo. - Posso te tocar? - Não. Ele se levanta, vem em minha direção e me toca no braço. Não feliz, me belisca. Ainda não feliz, arranca uma pena de minha asa. Então com um movimento rápido eu desapareço e reapareço longe. - Para de graça moleque. - Não sou moleque, já tenho 33 anos. - Um moleque comparado a mim. – e fico o olhando com um ar superior. – agora vou embora. Tente não fazer mais burradas. - Não. Fique. Você disse que cuida de mim faz tempo. Quanto tempo? - Desde que nasceu. - Mas você não parecer ter mais de 18 anos... - Tenho exatamente a idade do mundo. Fui criada quando Deus quis que seus anjos interagissem com os humanos. Para que cuidássemos de vocês. - Ok. Mas fique pelo menos está noite... tenho tanto para saber... Pensei um pouco. Eu também tinha tanto para perguntar. Como era sua vida, como ele se sentia, o que era sentir dor para eles... eu também queria aprender um pouco. Afinal, fazia mais de quinhentos anos que nenhum Anjo fazia contato com seu protegido. A maioria dos anjos nem se quer cuidavam de seus ‘bebes’. - Tudo bem. Mas só por hoje. – me aproximei e me sentei no sofá. Cruzei as pernas e fiquei olhando para ele. - Tudo bem. Primeira pergunta. Do que os Anjos nos chamam? - Varias coisas. – comecei a rir – Uma delas é de macacos sem pelo. - haha, não teve graça... - Teve sim Henry. Minha vez. Como é sentir dor? - é muito forte, por que, vocês não sentem? - Não... Ficamos conversando por varias horas. Ele me contou sobre como era se sentir humano. Como era ter medo da morte. Como era viver um dia após o outro com medo de que algo acontecesse com aqueles que amavam. Senti um pouco de inveja do que era ser Humano. Por que nós anjos não nos preocupávamos com nada. Vivamos das regras e das ordens. Para nós, não fazia muita diferença se um de nós morresse ou caísse por terra. Já estava quase amanhecendo quando ele disse a tão terrível frase. - Acho que gosto de você... - É um efeito causado pela minha beleza angelical. - Não... acho que gosto mesmo. Você é muito legal. É diferente... - Pena que as coisas não podem ser assim e eu tenho que voltar para meu posto. Talvez eu te visite uma vez por ano. Não deixei que ele respondesse. Apenas desapareci. Estava começando a me apegar a ele. Fazia 33 anos que eu o conhecia mas depois de conversar com ele, acabei me aproximando mais. Comecei a perceber que eu não poderia mais ser sua protetora. Então quando subi ao Céu naquele dia, pedi para minha amiga Clarisse cuidar dele dali em diante e eu cuidaria do protegido dela. E foi assim. Uma vez por ano eu voltava e conversávamos. E tudo se seguiu por dez anos. Até que o Anjo Ariel me chamou para conversar. - Amethyst venha aqui. - Pois não Chefe? - Onde vai Ame? - Eu iria descer a Terra por que? Tem algo para mim fazer? - Tenho. E começa com você não vendo mais aquele mortal velho. Vá até ele e diga que não o vera mais. Não quero meus anjos se engraçando com humanos por ai. - Sim senhor... – e então abri as asas e me preparei para descer a Terra. Demorou um pouco para chegar até seu apartamento. Até mesmo para me tornar visível aos olhos humanos. Ele havia envelhecido. Seus cabelos negros estavam começando a ficar brancos e algumas rugas de expressão estavam começando a aparecer em seu rosto. Então me tornei visível. - Anjo, você demorou... - Henry meu superior ordenou que eu nunca mais o veja. Então vim apenas me despedir... - Não pode... nem mesmo seu o seu nome... - Amethyst... - Não pode... eu gosto de você... você me ve a dez anos... não pode simplesmente sumir da minha vida. - É preciso... – me segurei para não cair nas emoções... - Ame... por favor... não me deixe... posso não ve-la nunca mais... - É preciso... por favor... encontre alguém que o ame... que possa o amar... me prometa isso... - Mas eu quero só...você... - Henry se gosta tanto assim de mim, me deixe ir... vamos nos encontrar um dia... - Você quer dizer quando eu morrer... - É o único jeito... – segurei as lagrimas e me aproximei, com os dedos, fechei seus olhos suavemente e lhe dei um selinho nos lábios. Quando ele abriu os olhos eu já havia ido. Os dias que se seguiram foram tortuosos. Não podia nem mesmo me aproximar dele na forma oculta. Ariel havia me proibido tudo. Se passaram cinco anos desde minha partida. Então Ariel me designou para cuidar de um bebe. Ele mesmo me levou até a casa onde a criança estava. A casa era linda, toda feita de madeira, em uma fazenda. Era lindo o lugar. Mas também perigoso levando em conta que eu teria que vigiar o bebe todos os minutos de sua vida. Atravessamos paredes e chegamos até o quarto do bebe. Quando vi de quem era a menina. Era a filha de Henry. A que ele sempre disse que queria ter comigo. Ele então seguiu o conselho que lhe dei... Olhei o quarto e acima do berço da criança havia a imagem desenhada de uma moça muito linda. Quando percebi os traços... ele havia me desenhado. E embaixo estava escrito Me Ame. Uma abreviação de Minha Amethyst. Eu vi este desenho na penúltima vez que o havia visitado. Ele tinha desenhado para mim. Uma mulher loira estava segurando um bebe loirinho e muito pequeno em seus braços. E Henry estava atrás dela. Eles estavam escolhendo o nome. - Querido, como quer que ela se chame? - Acho que... – ele olhou para o desenho no quadro e se voltou para o bebe – que ela gostaria que se chamasse Rosaly... - Ela quem? - Minha mãe... – e eu em seu lado, dissemos em uni som – por que ela gosta de rosas...

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