sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Um romance alem do tempo

Seres como eu não gostam de ser vistos por humanos. Nossa obrigação é cuidar e proteger. Apenas isso. Claro que com o passar dos anos alguns de nossa espécie foram vistos por seres humanos e apenas por isso sabem que possuímos asas de oito metros cada e que a nossa beleza é extremamente irresistível. Somos proibidos de nos relacionar com os humanos, até por que os que fazem isso são punidos. Como disse, nossa obrigação é cuidar e proteger. E era isso que eu estava fazendo parada em uma noite chuvosa do outro lado da rua cuidando do meu protegido, Henry. O humano pelo qual eu teria que proteger e lhe ensinar o certo e o errado com pequenos sussurros em sua mente turbulenta. Sempre o levo de volta para sua casa quando ele sai do trabalho. Aquele velho prédio ao lado de uma cafeteria. Assim que ele atravessou a rua eu comecei segui-lo. Passamos por um beco onde tinha dois homens parados, senti logo de cara que estavam armados e drogados. Aquele cheiro forte de cocaína estava saindo por seus poros. O homem mais alto com uma cicatriz no rosto puxou Henry pelo braço e o arrastou pelo beco, mais que depressa sacou uma arma calibre 38 e encostou em sua cabeça enquanto o mais baixo gritava para que passasse o dinheiro. Henry deu tudo o que tinha e quando olhei acima de sua cabeça vi seu tempo de vida diminuir rápido de mais, eu sabia que o homem que segurava a arma iria atirar. Eu não poderia interferir na morte, mas eu não consegui. Sai das sombras. - Larguem ele. – mantive o capuz no rosto. - Vaza daqui menina ou vai levar tiro também. – disse o homem com cicatriz. - Tenta. Acho que você não vai atirar em ninguém sem isso. – e então a arma em sua mão voou para a minha. Eles ficaram assustados com o acontecido e saíram correndo. Henry caiu no chão com medo. Pude ver medo em seus olhos quando me olharam. Então tirei o capuz do rosto e então meus cabelos loiros ondulados caíram sobre meus ombros e meus olhos azuis reluziam na escuridão do beco. Eu nunca tinha chegado tão perto assim de um humano. Conseguia sentir seu cheiro... e cheirava a medo. Mas também tinha aquele cheiro forte de homem quando fica excitado. Ele me olhava apreensivo. Me olhava da mesma forma como eu o olhava. Como que se um de nós pudesse morder o outro. Até que tive a coragem de me erguer e estender a mão para que ele se apoiasse e levantasse. - Agora vamos. Vou leva-lo para casa. - Quem é você? – perguntou com medo. - Alguem que cuida de você apenas... – então o puxei pelo braço até chegarmos até seu apartamento. - Quem é você? – no que ele puxou meu casaco e o mesmo caiu no chão revelando minhas asas, Henry caiu sentado no corredor do prédio no terceiro andar. - Acho que agora já sabe. Agora vamos, entre. Entramos no apartamento. Ele se sentou no sofá e seu em uma cadeira logo a sua frente. Por um bom tempo ele apenas me olhava. Me analisava. E eu cada vez mais ficava preocupada. Humanos normalmente quando se deparam com um Anjo, tendem a se apaixonar. E o anjo por nunca ter conhecido os prazeres humanos acaba caindo em tentação e perdendo suas asas, deixando de ser um Anjo. - Posso te tocar? - Não. Ele se levanta, vem em minha direção e me toca no braço. Não feliz, me belisca. Ainda não feliz, arranca uma pena de minha asa. Então com um movimento rápido eu desapareço e reapareço longe. - Para de graça moleque. - Não sou moleque, já tenho 33 anos. - Um moleque comparado a mim. – e fico o olhando com um ar superior. – agora vou embora. Tente não fazer mais burradas. - Não. Fique. Você disse que cuida de mim faz tempo. Quanto tempo? - Desde que nasceu. - Mas você não parecer ter mais de 18 anos... - Tenho exatamente a idade do mundo. Fui criada quando Deus quis que seus anjos interagissem com os humanos. Para que cuidássemos de vocês. - Ok. Mas fique pelo menos está noite... tenho tanto para saber... Pensei um pouco. Eu também tinha tanto para perguntar. Como era sua vida, como ele se sentia, o que era sentir dor para eles... eu também queria aprender um pouco. Afinal, fazia mais de quinhentos anos que nenhum Anjo fazia contato com seu protegido. A maioria dos anjos nem se quer cuidavam de seus ‘bebes’. - Tudo bem. Mas só por hoje. – me aproximei e me sentei no sofá. Cruzei as pernas e fiquei olhando para ele. - Tudo bem. Primeira pergunta. Do que os Anjos nos chamam? - Varias coisas. – comecei a rir – Uma delas é de macacos sem pelo. - haha, não teve graça... - Teve sim Henry. Minha vez. Como é sentir dor? - é muito forte, por que, vocês não sentem? - Não... Ficamos conversando por varias horas. Ele me contou sobre como era se sentir humano. Como era ter medo da morte. Como era viver um dia após o outro com medo de que algo acontecesse com aqueles que amavam. Senti um pouco de inveja do que era ser Humano. Por que nós anjos não nos preocupávamos com nada. Vivamos das regras e das ordens. Para nós, não fazia muita diferença se um de nós morresse ou caísse por terra. Já estava quase amanhecendo quando ele disse a tão terrível frase. - Acho que gosto de você... - É um efeito causado pela minha beleza angelical. - Não... acho que gosto mesmo. Você é muito legal. É diferente... - Pena que as coisas não podem ser assim e eu tenho que voltar para meu posto. Talvez eu te visite uma vez por ano. Não deixei que ele respondesse. Apenas desapareci. Estava começando a me apegar a ele. Fazia 33 anos que eu o conhecia mas depois de conversar com ele, acabei me aproximando mais. Comecei a perceber que eu não poderia mais ser sua protetora. Então quando subi ao Céu naquele dia, pedi para minha amiga Clarisse cuidar dele dali em diante e eu cuidaria do protegido dela. E foi assim. Uma vez por ano eu voltava e conversávamos. E tudo se seguiu por dez anos. Até que o Anjo Ariel me chamou para conversar. - Amethyst venha aqui. - Pois não Chefe? - Onde vai Ame? - Eu iria descer a Terra por que? Tem algo para mim fazer? - Tenho. E começa com você não vendo mais aquele mortal velho. Vá até ele e diga que não o vera mais. Não quero meus anjos se engraçando com humanos por ai. - Sim senhor... – e então abri as asas e me preparei para descer a Terra. Demorou um pouco para chegar até seu apartamento. Até mesmo para me tornar visível aos olhos humanos. Ele havia envelhecido. Seus cabelos negros estavam começando a ficar brancos e algumas rugas de expressão estavam começando a aparecer em seu rosto. Então me tornei visível. - Anjo, você demorou... - Henry meu superior ordenou que eu nunca mais o veja. Então vim apenas me despedir... - Não pode... nem mesmo seu o seu nome... - Amethyst... - Não pode... eu gosto de você... você me ve a dez anos... não pode simplesmente sumir da minha vida. - É preciso... – me segurei para não cair nas emoções... - Ame... por favor... não me deixe... posso não ve-la nunca mais... - É preciso... por favor... encontre alguém que o ame... que possa o amar... me prometa isso... - Mas eu quero só...você... - Henry se gosta tanto assim de mim, me deixe ir... vamos nos encontrar um dia... - Você quer dizer quando eu morrer... - É o único jeito... – segurei as lagrimas e me aproximei, com os dedos, fechei seus olhos suavemente e lhe dei um selinho nos lábios. Quando ele abriu os olhos eu já havia ido. Os dias que se seguiram foram tortuosos. Não podia nem mesmo me aproximar dele na forma oculta. Ariel havia me proibido tudo. Se passaram cinco anos desde minha partida. Então Ariel me designou para cuidar de um bebe. Ele mesmo me levou até a casa onde a criança estava. A casa era linda, toda feita de madeira, em uma fazenda. Era lindo o lugar. Mas também perigoso levando em conta que eu teria que vigiar o bebe todos os minutos de sua vida. Atravessamos paredes e chegamos até o quarto do bebe. Quando vi de quem era a menina. Era a filha de Henry. A que ele sempre disse que queria ter comigo. Ele então seguiu o conselho que lhe dei... Olhei o quarto e acima do berço da criança havia a imagem desenhada de uma moça muito linda. Quando percebi os traços... ele havia me desenhado. E embaixo estava escrito Me Ame. Uma abreviação de Minha Amethyst. Eu vi este desenho na penúltima vez que o havia visitado. Ele tinha desenhado para mim. Uma mulher loira estava segurando um bebe loirinho e muito pequeno em seus braços. E Henry estava atrás dela. Eles estavam escolhendo o nome. - Querido, como quer que ela se chame? - Acho que... – ele olhou para o desenho no quadro e se voltou para o bebe – que ela gostaria que se chamasse Rosaly... - Ela quem? - Minha mãe... – e eu em seu lado, dissemos em uni som – por que ela gosta de rosas...

segunda-feira, 30 de maio de 2011

Coração De Gelo




Em todo o reino sempre existe uma bela princesa cobiçada por todos e odiada por alguns. A grande verdade é que muitos também se apaixonam por ela e pensam em se tornar alguém da realeza. Alguns tentam atentados contra a segurança da amada mas acabam torturados ou coisa pior... mas nem todas são felizes. Sempre são prometidas em casamento por um velho prestes a morrer ou a um jovem com vontade de ser o próximo ‘rei do mundo’. No caso de Fiore, ela tirou uma carta dupla. Foi prometida em casamento a um velho de quarenta anos que quer ser o próximo ‘rei do mundo’.
O que nunca a perguntaram é se ela era apaixonada por alguém ou se até mesmo queria se casar com o Rei do Sul. Porem, sendo a Princesa do Norte, se via obrigada a aceitar a proposta para evitar uma futura guerra dos mil anos igual já houve anteriormente. Mas ela não se importava muito com a ideia de ver cabeças rolando e o chão ensopado de sangue. Ela queria ser livre, casar com quem ela escolhesse.
Quando Fiore rejeitou a proposta pessoalmente sem interjeição dos pais, o Rei George atacou a cidade e por fim, invadi o palácio e matou seus pais. Transtornada, resolve congelar seu corpo, seu coração levando a cidade para o absoluto gelo eterno até que alguém que merecesse ser Rei ao seu lado a acordasse. No decorrer do congelamento, algumas pessoas tentavam fugir da cidade, mas todos que possuíam o sangue congelou e muitos foram parar em cidades onde se quer sabiam de sua existência.



Na verdade, a maioria das historias são contadas por aqueles que a fazem acontecer, mas desta vez, quem contará... será alguém que participou...mas de fora. Meu avô sempre me contava esta historia antes de dormir. E eu sempre acreditei que talvez um dia encontrasse está cidade e descongelasse a princesa Fiore. Nunca me vi apaixonado por um historia enquanto eu era por esta.
Eu sempre gostei de aventuras, e depois que meu avô se foi, comecei as buscas pela cidade do norte. A cidade congelada. Está passou a ser minha ‘Atlântida’. Minha cidade do gelo.
No entanto não foi fácil. Muitos a buscavam. Eu me encontrava próximo a Rússia quando nas extremidades tropecei em uma pedra. A principio, supus ser uma pedra. Quando me levantei e olhei... era um corpo congelado. Inerte, até morto. Como todo bom homem samaritano recolhi o corpo da criança e a levei ao instituto de pesquisa. Fiquei na sala de espera e o tempo não passava. Até que um senhor baixo e corcunda se aproximou.

- Pois não? – perguntei.

- Como se chama? – retrucou o velho.

- Leon. E o senhor?

- Luigi. Sou o medico legista que examinou o corpo. Porem...

- O que? – perguntei na esperança de ser algo do qual eu procurava.

- A criança está viva. Mas congelada de uma forma que nem mesmo nós, médicos, sabemos como. E ao que tudo indica ela estava com os pais. Ninguém fugiria assim sozinho.

Não tive muito tempo para processar o que o Dr. Luigi dizia. Peguei meu casaco e meu equipamento e sai porta a fora. Até me lembrar que precisava cuidar da menina. Voltei e coloquei a cabeça. O medico me olhava pensativo.

- Cuide dela por mim. – gritei em meio a tempestade de neve que ocorria na cidade.

- Qual seu sobrenome, meu jovem? – perguntou ele.

- Sulivan.

E sai em direção ao frio intenso. Entrei no carro e atravessei a cidade indo mais para o norte. Estacionei o carro na mesma vaga onde estava antes de levar a menina e segui andando. Os ventos me açoitavam mas não desisti. E a cada passo que dava, ficava mais atento ao fato de achar os pais da menina. Porem, não achei nada.
Já estava anoitecendo então comecei a construir meu iglu. Não era difícil mas também não era fácil cortar cubos de gelo em meio a uma tempestade de neve. Depois de uma hora cortando gelo terminei meu acampamento provisório e entrei. Me acomodei e liguei uma lamparina e fechei a entrada. Estava muito frio.
Peguei o meu diário e uma caneta e comecei a escrever. Contei-lhe sobre o dia. E sobre o fato de ter encontrado uma criança congelada. Na faixa dos onze anos de idade. Depois de relatar meu dia no diário de viagem, me encostei no saco de dormir e fiquei olhando para cima.
Nunca havia parado para pensar em uma real existência da cidade. No inicio, acreditava ser apenas ideia maluca que eu tinha. Mas agora estava provado que era verdade. Que existia. Mas também evitava pensar no por que a princesa para evitar casar-se com George congelou a cidade inteira e fez com que fosse esquecida no mapa... ela poderia apenas ter se congelado...
Fiquei discutindo por horas no meu interior está questão. Se ela se congelou, no mínimo o Rei do Sul arrumou um jeito de se manter vivo com o tempo para pegar a princesa assim que ela acordasse. Por fim acabei pegando no sono e dormindo. Estava muito frio para queimar neurônios atoa.
Acordei pela manha esperando que a tempestade tivesse passado, mas não passou. E também não poderia parar minhas buscas. Com muito custo sai do iglu e fiz uma fogueirinha. Esquentei meu café e comi. Logo juntei minhas coisas e continuei andando ainda mais em direção ao norte.
Caminhei e não conseguia ver nada a minha frente. Tentei olhar o livro onde continha um pequeno mapa onde segundo os historiadores poderia ser o reino da cidade de gelo. Era difícil ver com toda aquela tempestade. Mas estava mais ao norte.
Conforme eu caminhava a tempestade se tornava mais densa, com ventos violentos. Como que se não me quisesse por perto. Como se não quisesse ser descoberta. Andei por horas e quando olhei no relógio já iria anoitecer novamente. Por sorte, adiante havia uma caverna... procurei ir até lá o mais rápido possível e passar a noite. Fui para o fundo, fiz uma fogueira e entrei no saco de dormir.
Mais uma vez escrevi em meu diário e logo depois me enterrei em um sonho profundo. Sonhei com meu avô me contando a historia da cidade. Dormi por horas, segundo meu relógio, até o meio dia. Fiz novamente a fogueira para esquentar meu almoço. Arrumei minhas coisas e parti ainda mais para o norte. Já se passaram dois dias que parti da cidade. Eu deveria estar próximo da cidade, tinha de estar...
Quando sai da caverna não nevava, mas a três metros de mim havia uma mulher. Fiquei com receio de me aproximar. Mas era bonita. Com belas curvas também... ela se aproximou um pouco. Ficamos então a poucos centímetros de distancia. Ela estava quase nua, com apenas um pano que mais parecia um vestido tomara-que-caia com uma faixa na cintura presa com um broche de diamante na forma de estrela.

- Qual seu...? – tomei coragem para perguntar mas logo me cortou.

- Frost. Agora saia daqui. – respondeu grossa.

- Não sente frio? E por que eu deveria ir? – perguntei.

- Não. Agora saia. Ninguém o quer aqui.

A ignorei e subi para o norte. Não iria ficar discutindo com minha imaginação. No mínimo o frio intenso havia feito com que eu tivesse alucinações. Parei para ajeitar a mochila nas costas e então a tempestade voltou com mais intensidade do que antes. De fato, não me queriam aqui. O que significava que a cidade estava próxima.
Segui em frente ainda mais. A motivação me levava para o norte enquanto meu corpo queria ficar parado e morrer na tempestade. Então uma rajada de vento ricocheteou meu rosto deixando um filete de sangue no qual congelou rapidamente. Então a neve parou. E mais adiante formou-se um redemoinho de gelo. Pensei em correr mas logo ele se dissipou e apareceu novamente aquela mulher chamada Frost.

- O que você quer? – perguntei irritado pelo corte no rosto.

- Que saia! – respondeu tranquilamente.

- Não vou sair. – bati o pé e afundei no gelo caindo em um calabouço. – onde eu tô? – gritei.

E então a imagem fantasmagórica da mulher apareceu a minha frente. Estava mais viva. Com mais cor eu diria. Na neve ela era branca, quase impossível de vê-la. Agora estava com uma cor normal. Mais para as pessoas de onde eu vim. Seus cabelos eram negros, lisos e grossos até o quadril. Era mais baixa que eu. Mas era mais bonita agora.
Fiquei olhando para ela esperando que me respondesse onde eu estava. Mas apenas levantou a mão e me ajudou a ficar em pé. Depois me deu as costas e seguiu pelo túnel. A segui. Não iria ficar aqui sozinho. Vai saber que tipo de bicho ou rato venenoso tinha. Depois de alguns minutos de caminhada chegamos a uma saída. Um salão, eu diria.

- onde eu tô? – perguntei meio perdido olhando para a beleza do lugar.

- Está é a cidade de gelo. Está sou eu.

- Mas seu nome é Frost.... – e então fiquei olhando para ela. Que me lançava um olhar me chamando de idiota. – ah... ok. Mas você é humana.

- Não. Eu fui criada para proteger a cidade enquanto a princesa dorme.

- Mas... George ainda vive. Por isso ela ainda não acordou. Não é?

- Não seja tolo, garoto. George morreu a anos depois de querer brigar com o Reino do Sol.

- Então por que ela ainda não acordou?

- Por que o mundo mudou. Já fazem cem anos.

- Isso não muda os fatos, seja lá quem você for. Essas pessoas não podem ficar congeladas.

- Mas é claro que podem.

- Logico que não. São humanos...seus sentimentos devem ser levados em conta.

- E com que finalidade? – seus olhos me fitaram com certa duvida. – Sentimentos foram feitos para machucar, não senti-los é um privilegio.

- Sabe – olhei para o fundo de seus olhos sem esperar ver algo humano dentro deles. – as vezes me esqueço que você não tem alma. – e sai andando em busca dos aposentos da
princesa.

Sem dizer uma única palavra Frost seguiu atrás de mim. Andei muito, analisando cada mínimo detalhe. Como que todos os pesquisadores nunca haviam percebido que uma cidade estava em baixo de todo aquele gelo? Morreriam também se dependessem dessa sombra que me segue. Só queria saber por que ainda não havia me congelado ou incinerado.
Ouvi passos pesados se aproximarem. Mas não considerei o fato de ser uma pessoa. Apenas senti Frost me puxar pelo braço e me esconder em um armário junto a ela. Logo vi a sombra de um casal de tigres com armaduras transparentes passarem. Um deles olhou para o armário mas desconsiderou a ideia de vida humana. Assim que se foram, saímos do armário. Olhei para ela aturdido.

- O que são aqueles animais?

- Tigres. Você é cego? – ficou me olhando.

- Sei que são tigres. Mas o que fazem aqui?

- A princesa sabe que apenas uma pessoa não cuidaria de tudo isso. Então enfeitiçou os animais para guardarem a cidade.

- Do que é feito as armaduras?

- Uma joia. Feita da essência humana. Nenhuma arma de fogo ou magia barata atravessaria a armadura.

- Essência... você diz... alma?

- É.

- Ela matou pessoas para fazer as armaduras?

- Matou. – ficou me olhando como se eu fosse um babuíno.

- Não me olhe com essa cara. Como ela poderia matar pessoas?

- Quem desrespeita a realeza merece a morte, meu jovem.

E então seguiu andando pelo corredor. A segui. Não iria ficar ali parado esperando virar comida de tigre. Mas nada me saiu da cabeça como ela poderia ser tão má e cruel. As historias que meu avô me contava... parecia ela ser a pessoa mais doce do mundo e perdoar as pessoas. Claro que quando seus pais foram assassinados fez com que ela se tornasse mais fria a sentimentos mas nada que matasse um ser humano pra transformar feras em armas ainda mais letais e indestrutíveis.
A segui pelo que me pareceu uma eternidade. Atravessamos a cidade inteira, o que demorou muito, e finalmente chegamos ao palácio. Bem em frente, na escadaria, havia duas estatuas da princesa. A da direita, ela empunhava uma espada sendo apontada para a cidade e na da esquerda, um arco e flecha. No que nos aproximamos, foi como que se os olhos das estatuas me olhassem e tentassem me decifrar. Procurei evitar os olhares e a segui escada a cima. Quando entramos fechei as portas mais que de pressa.
Mesmo eu estando em seu encalço ela não falava nada e eu também não perguntava. Subimos novamente as escadas e atravessamos outro imenso corredor. Já estava começando a ficar cansado, com fome e com frio. Então me aproximei e coloquei a mão em seu ombro. Ela parou e pareceu gelar. Pensei que esse era o momento em que eu seria incinerado mas então ela apenas tirou minha mão do ombro e se virou para mim. Como que se lesse meus pensamentos.

- Já estamos chegando e poderá descansar e vislumbrar algo que apenas um mortal viu até então.

Se virou novamente e continuou a andar. Não acreditei quando disse que eu seria o segundo humano. Então... paramos em frente a uma porta no final do corredor. Era simplesmente lindo a porta. Toda trabalhada em ouro e gelo. Ela bateu e então uma voz familiar perguntou quem era. Ela respondeu ser quem era e então o homem a abriu. Quando gelei.

- Era pra você estar morto. – foi a única coisa que consegui dizer.

- Mas não estou. – não demonstrou nenhuma alegria ao me ver.

- Eu vi você ser enterrado. – quase cai sentado se não fosse Frost me levar para
dentro do aposento e eu ver uma linda mulher deitada na cama dormindo o que poderia dizer o melhor sonho possível. Pelo menos ao seu redor o mundo não estava desmoronando.

Fui obrigado a me sentar em uma cadeira se não eu mesmo me congelaria. Ela era realmente linda. Me senti tentado a beija-la mas sabia dos riscos. Mas decorrente do que estava vislumbrando, a morte era a mais aceitável.

- Exijo explicações. – foi a única coisa que consegui dizer.

- OK. Eu não morri como pode ver. Quem é aceito nesta cidade não envelhece. Frost me entregou um pergaminho escrito pela própria alteza. – e então estendeu a mão a cama e depois se voltou para mim. – Quem Frost achasse digno de entrar na cidade poderia acordar a princesa. Só que eu nunca poderia dizer isto a minha família, me achariam um louco e eu rezava todos os dias para que você não seguisse por este caminho que o trouxesse onde esta. Para acordar a princesa Fiore exige sangue, e sangue fresco.

- E agora vai sacrificar seu querido neto. – estendi os braços com um fino desejo de esgana-lo nos olhos.

- Não seu sangue. Para dar certo ela teria que se apaixonar por você. Então você teria de beija-la. Se não congelar, usaríamos apenas um pouco do seu sangue para acorda-la.

- Ficou louco? Por que ela se apaixonaria por mim?

- Por que você passou sua vida inteira apaixonado por um livro, sobre uma princesa congelada em busca do seu príncipe encantado. Ora Leon, todos nesta sala sabemos que ela não te ama, mas o fato de você ama-la e não cobiçar o trono pode traze-la a vida.

- Claro que pode né? Para ela matar mais pessoas e fazer de suas almas armaduras para feras insanas.

- Não importa. Essas pessoas não podem ficar congeladas para sempre.
Continuei sentado, sem responder se aceitaria ou não. A está altura do campeonato não sabia mais se ainda a amava, se ainda merecia todo o amor e dedicação que nela depositei. Nela eu depositei todos os meus anos na faculdade, todos os dias de minha vida eu procurei pela cidade, pela princesa. E agora estou aqui, ao seu lado e não tenho coragem de beija-la pelas coisas que fez. Então depois de muito pensar, me levantei e fui até ela. Se fosse para morrer, preferia que fosse congelado sem ser traído pelo avô que eu tanto amava.
Fiquei parado, a centímetros de seus lábios. Todos me olhavam com expectativa. Peguei o punhal que estava em minha jaqueta e passei por meus lábios. Senti o sangue quente escorrer e então olhei para Frost e meu avô.

- Se essa louca for acordar e continuar sendo a pessoa mais cruel que eu vi por toda essa cidade, prefiro não estar vivo. Dói menos estar morto.
Então me abaixei e toquei seus lábios. Foi como beijar o gelo mais intenso e solido e imortal. Ela não esboçou reação. Quando me afastei, ficamos a olhando. Sua boca estava cheia de sangue. Do meu sangue.
Pude ver, bem de leve, seu peito de estufar. Como se puxasse ar. Aos poucos apertou os olhos e os lábios. Ela era linda com seus eternos vinte e dois anos. Morena e alta. Quando seus olhos se abriram, eram como alabastro. Se levantou com dificuldade e se sentou. Meu avô e Frost de curvaram mas permaneci em pose se protesto.
Seus olhos me fitaram mas ela mesma nem se moveu.

- Não peço que se curve, seria contra sua natureza hostil. – sua voz saiu rouca mas ainda com classe.

- Meu sangue...

- Posso saber tudo o que se passou em sua mente até o beijo. Até provar seu sangue.

- Seus olhos... exotivos..

- Sou única. – e então, ainda fraca veio em minha direção e pude sentir sua respiração se envolver com a minha. – sabe, não gosto que me chamem de louca, ainda que eu não saiba o que significa isso.

- Desequilibrada. Essa você conhece? – não pude deixar de notar o ar a minha volta de condensando e o frio eterno se estabelecendo a minha volta. – E é agora que você me mata.

- Não vou mata-lo. Você é meu rei. Mas já que não quer assumir o trono, ficara congelado nele.

Ela me tocou então. No peito e senti meu coração parar. Senti-o congelar aos poucos até que se tornasse gelo. Respirei pela ultima vez antes do meu pulmão parar e ficar congelado. Ela veio e me beijou nos lábios. Foi mais terno que o primeiro com sangue. Foi como que se minha alma estivesse sendo congelada depois deste ato. Senti-a morder meus lábios até sangrarem e depois se afastou. Deslizou suas mãos em meu corpo em busca do meu diário que logo o achou no bolso da minha calça. O abriu e pingou nele as gotas de meu sangue. E letras apareceram com todos os meus pensamentos nele. Ela o fechou e me abandonou.

- Guarde isto com os meus livros preferidos Frost. – e entregou a moça.

- Claro Alteza.

- Vá curtir sua eternidade bom senhor. Foi-me muito útil e merece o que quiser. – então passou por meu avô que estava parado me olhando. Processando ainda o que havia visto.

A bela princesa Fiore saiu do quarto com toda sua classe em seu vestido vermelho meio transparente de pano leve e se foi para onde eu jamais a veria novamente. Ou veria... se um dia eu quisesse ficar ao seu lado. Mas eu sempre irei amar aquela cujo coração é mais duro que um diamante e mais frio que o próprio gelo eterno.

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Revolta Pessoal!!

                     familia-lendo-a-biblia

 

 

                                                          Era uma vez, uma familia feliz.

 

 

 

 

 

                                                   caveira

                                                            Dai eles morreram, e FIM!

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Um Amor Adolescente





Sempre gostei de andar na praia. Quem nunca gostou né? A briza marinha acalma qualquer animo estressado. Eu estava sentada a beira do mar, com as ondas calmas e mornas ao meu redor. Meu short estava ensopado já. É estranho como o mar nos faz pensar em tudo. Em como nossa vida toma um rumo diferente a cada segundo, em como conhecemos pessoas divertidas nas viajens e princialmente nele. No unico cara que faz meu coração bater em um ritmo tão acelerado que chego a pensar que posso ter um infarte a cada minuto que penso nele.

Mas o mais interessante é na frase que eu sempre penso também. Gatinho mais cafageste. Também não posso culpa-lo por ser assim comigo. Fui a maior cachorra com ele. E hoje, por mais que me doa admitir, ele poderia ter sido o cara certo para mim.

Ele amadureceu tanto, está tão diferente fisicamente e emocionalmente. Ele chega a ser duro comigo muitas vezes. Olhando o mar, posso até fazer uma breve comparação em apenas uma palavra. Indomavel. Pode soar banal a comparação mas é nessa conclusão que eu chego. Ele acabou se tornando indomavel com o tempo. Calmo e traiçoeiro, igualzinho ao mar.

Me lembro como se fosse ontem o dia em que nos conhemos. Através de um jogo, ve se pode? Rs... Com o tempo nos tornamos amigos, ele era sim, um otimo amigo. Sinto falta disso. Não vou negar que com o passar do tempo. Não tenha ocorrido alguns atritos. Sou meio irritante as vezes. Fazer o que? Paciencia...

Por fim acabo me levantando e tentando limpar lama em minhas pernas. Caminho até adentrar o mar e ele fique até meus joelhos para poder me lavar. Queria que eu pudesse ser proxima assim daquele homem, por que hoje ele deixou de ser um menino para mim. Mas como tudo, não podemos ter tudo o que queremos e me afasto. Queria ficar ali, sentada para sempre, admirando aquela beleza infinita, mas eu tinha que ir embora. Assim como também não poderia ser nada mais para aquele homem a não ser um fantasma do passado. E assim como tudo. Somos distantes. Como eu e o mar.

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Um Relacionamento as Avessas..




Eu estava sozinha em meu quarto como sempre e como tal, estava se fazer nada por causa das férias. Ninguém conversava no Messenger e eu estava começando a ficar aborrecida com isso. Plena sexta feira sem nada para fazer. Não tinha mais o que fazer no orkut, facebook e twitter, e por causa disso tive uma idéia super idiota. Entrei em um site de bate – papo para descontrair. Chega ser interessante como você mal entra em um lugar e logo quinhentas pessoas vem falar com você, a maioria dando em cima, claro.
Como não sou nenhuma boba, criei um MSN fake e para os que pediam meu MSN, eu passava o falso. Os legais eu adicionava no verdadeiro, mas isso fica em off ok? Rs
E conversa vai conversa vem, adicionei um moço muito bonito no MSN. Ele tem 25 anos, loiro dos olhos verdes. Perfeito, se não tivesse o pequeno defeito de ser irritante. Mas começamos a conversar em fim a sós no MSN.
Ele me adicionou no orkut e no facebook e fez altos comentários sobre minhas fotos.

- Nossa, com uma noiva dessa, eu roubava da igreja. – comentou o moço.

- Ah obrigada, embora e não ache que alguém faria isso...

- Eu faria... – e ficou uma cantada no ar. Naquele dia eu me diverti muito. Não era o tipo de cara que eu esperava encontrar em um Chat de bate papo, ainda mais, um moço da minha cidade.

No final de semana que prosseguiu, marcamos de sair. Me arrumei toda para conhecê-lo pessoalmente, lógico. Chamei minhas amigas e fomos para um barzinho. Ficamos lá e nada dele aparecer. Eu já estava começando a ficar nervosa pois não tinha pegado o celular dele para perguntar se já havia chegado. Então eu e minhas amigas pedimos vinho. Se fosse para levar bolo, pensei, que seja com estilo.
Não demorou muito e um moço, com o mesmo tipo físico que ele, passou atrás de mim para ir ao banheiro. Olhei de relance e até pensei que fosse ele. Pedi para minha amiga olhar, e quando ele saiu, minha amiga confirmou.

- Mesmo Anna?

- Uhum Mabel. – disse minha amiga.

- Bom, vou ficar olhando na direção da mesa dele né? Se o amigo dele olhar, eu faço sinal para que venham se sentar com a gente.

- Ok.

- Tem certeza que é boa idéia Mabel? – perguntou Camile, outra amiga minha.

- Não sei Mile, mas ele é bonitinho. – sorri.

- Ta né... – disse pouco convencida. Então o amigo dele olhou na nossa direção e eu fiz sinal para que viessem, e não vieram. Daí eu fiz sinal de novo e o amigo dele pouco inteligente veio sozinho perguntar para mim se eu, era eu. E confirmei.

- Mas cadê seu amigo? – perguntei.

- Ele esta com vergonha... vem comigo chamar ele? – revirei os olhos e levantei. Fui com ele chamar o Julio. Assim que cheguei perto da mesa ele me olha meio assustado.

- Que que foi?

- Nada... é que você é bem alta. – disse ele. Resumindo, eu não poderia usar nunca salto perto dele que iriam perguntar se eu era sua mãe.

Procurei ignorar aquele comentário. Fomos para minha mesa e os apresentei a minhas duas amigas. O amigo dele ficou dando em cima de Mile, que para o azar do pobre moço, ela tem namorado. E sorte dela ter namorado, pois o amigo de Julio é muito feio. E eu estava tentando arrumá-lo para a Anna, coitada. O cara por foto é ajeitado mas pessoalmente...acho que nem nascendo de novo.
Conversamos por horas naquele bar. Ele me disse que nunca pagava a conta quando ia nesse bar, pois como ele conhecia muita gente, migrava de mesa em mesa. Ou seja, transferia seus pequenos gastos em bebida para a comanda das mesas de seus amiguinhos. E para azar, ele fez isso com a gente. Filho da mãe.
Quando cansei de conversar, e já estava interessada em outra coisa, resolvi com minhas amigas e pagamos a conta. Eu e ele fomos la para fora conversar a sós. Mas seu amiguinho não contente por isso e querendo beber mais, resolveu ficar atrapalhando com mensagens no celular dele.
Em algum momento da conversa lá no bar, eu disse que só ficava com o cara, se gostasse dele. O ser abençoado, resolveu levar esse comentário a serio de mais, o que me fez tomar a atitude de beijá-lo o que me deixou profundamente brava, pois isso deve partir do homem, e não da mulher. Estão de acordo?
Por fim, nos beijamos por uma ou duas vezes. Não lembro ao certo. E já estava ficando tarde, por isso acabei indo embora. Já era duas horas da manhã e meu pai ficou meio bravo comigo por isso.
Mas por felicidade ou infelicidade minha, eu peguei o numero do celular dele. Assim que cheguei em casa, mandei uma mensagem dizendo que tinha gostado da noite
E foi nesse dia, que eu deixei meu burrinho tomando chuva.
No outro dia, domingo, eu tinha marcado de ir no shopping com uma outra amiga minha a Michele. Eu precisava contar o babado da noite anterior. E queridos, existem coisas que não podem ser ditas por telefone. E sim, pessoalmente. Então contei tudo, contei até os mínimos detalhes. Ela me chamou de louca e tudo o mais, típico dela. Mas ela concordou em chamar o namorado dela para ir ao shopping com a gente e eu liguei para o Julio. Ele disse que iria no shopping, mas teve a audácia de dizer que só iria depois da igreja. Que tipo de homem, troca encontro por igreja. Bom esse ai troca.
Depois que o ser abençoado resolveu sair da igreja e foi ao shopping, ficamos um pouco na praça de alimentação, os quatro, conversando. Ele não tinha muito papo, devo admitir, mas era bonitinho e poderia ser um bom utilitário nas férias. Então fomos lá para fora no estacionamento. Eu e ele ficamos de um lado do muro, enquanto Michele e seu namorado, ficaram do outro.
Julio me disse que quando liguei para ele perguntando se poderia ir ao shopping, sua ex namorada estava na frente dele e ficou com a maior cara de ciúmes. Achei meio patético pelo fato dele ter 25 anos e ainda ficar fazendo birrinhas de disse me disse para ex namorada ficar com ciúmes.
Mas vamos relevar.
Por ser domingo e eu ter aula no outro dia, eu fui embora cedo do shopping. Dei carona para a Michele e seu namorado. Assim que deixei o namorado de Michele na casa dele, disparou-se as perguntar.

- Me conta tudo! – perguntou Michele.

- Nada de mais! Só que é horrível beijar homens com uma pequena camada de barba. Isso arranha!

E nisso eu e ela nos entreolhamos e caímos na risada. Assim que deixei Michele em sua casa, segui para a minha. Felizmente, naquele dia eu estava com carro, e então meu pai não me encheu o saco. Mas mesmo assim, ouvi um pouco dele por ter saído em um domingo para encontrar um cara. Mas como todos nós sempre fazemos, o que os pais dizem, entra por um lado e sai pelo outro.
Na semana seguinte, eu e ele mantemos contato. Resolvemos sair na quarta feira para dar uma volta no shopping. Conversamos sobre tudo. Ele chegou a me deixar um pouco entediada por só falar em todos aquele tipos de programas que ele tinha que fazer para passar no curso. O que me deixou admirada foi o fato dele aos 25 anos, não ter feito faculdade. Queria esperar o amiguinho para que ambos fizessem faculdade juntos. Que lindo!
Depois daquele dia resolvi que ele poderia vir em casa. Eu marquei com ele as 19 horas, ele veio... as 21 horas. Pontual né?
Vamos relevar. Foi isso que pensei quando ele apareceu. Respirei fundo e sorri, como toda boa retardada. Afinal, todo mundo se atrasa né? Até duas horas... perdoável?
Fomos para minha vó. Lá como toda boa família eles resolveram me atormentar. Desenterraram altas historias minha de quando eu era pequena. Quiseram até mostrar para ele fotos minha de pequena. Cara, isso é imperdoável.
Quando finalmente aquele momento família aterrorizante acabou, eu e ele fomos para casa ver filme. Assistimos Atividade Paranormal. Odiei o filme. Mas pelo menos foi um pretexto básico para ficarmos juntinhos vendo filme.
Ficamos ainda um tempo na sala e depois ele disse que tinha que ir embora. E foi.
No final de semana que havia chegado eu iria para São Paulo. Iríamos ficar um tempo na praia e depois um tempo na cidade grande. Comprei muita coisa lá. Minha amiga Anna, viajou comigo. Ela levou o notebook dela e com isso, conversei um pouco com o Julio.
Ele começou com graça de que não sabia o que era formspring ( site onde perguntamos as outras pessoas varias coisas, e o dono do formspring decide de responde ou não.) e ele fez um. Disse q não sabia mexer e pediu para mim entrar no meu e ajudá-lo com o dele. No que eu abro o meu, tinha uma pergunta lá.

‘ se eu te pedisse em namoro, você aceitaria?’

E eu respondi que:

Se fosse pessoalmente, sim.

Não querendo menosprezar. Mas eu não aceitaria um convite desses via computador não. Muito menos, vindo de um site de perguntas.
Um dos maiores defeitos dele, era ficar colocando em jogo a minha boa e santa paciência que eu nunca tive. Ele sempre vinha com a graça de.

‘ você vai me trocar por um japonês, eu sei que vai. Ou se não por um japonês, por alguém melhor que eu.’

Na época eu deveria ter dito que palavras tem poder, hoje eu largaria ele descobrir por si só isso, como fiz.
Eu fiquei uma semana fora de casa. E quando voltei, no mesmo dia fui com ele ao shopping e foi lá que ele cometeu seu primeiro erro comigo. Disse para mim, na maior cara de pau, o que ele vinha dizendo todo o santo dia. Que eu ia trocá-lo. E não adiantava falar que não, por que, vocês sabem que criança quanto mais contraria, pior fica.
Então eu desisti de argumentar e fui embora. E quando cheguei em casa ele ainda teve de ser mais cretino. Lógico, a noite não poderia acabar sem um granfinale.
Eu disse que ia comer, pois estava com fome. Tinha acabado de chegar de viajem e ido ao shopping. Fiquei duas horas lá e voltei. Não tinha comido nada e disse que ia comer. Daí o ser abençoado resolveu terminar de acabar com a poça vontade que eu estava de falar com ele por toda minha vida.

- vê se não come muito ta? Se não você vai engordar e eu não gosto de mulher gorda.

Minhas queridas e queridos. Vamos ao debate de como ele deveria ter sido morto depois disso. Esfaqueado? Acho que não, daria trabalho e precisaria de mais gente para segurar ele. Queimado? Hm, destruiria algum lugar. Devorado por algum bicho? Se eu morasse perto do mar ou na áfrica, jogaria ele para os leões ou os tubarões.
Como toda boa dama, respirei fundo e exercitei minha contagem de números. Acho que contei até 10 um milhão de vezes. E mesmo assim eu queria matá-lo com minhas próprias mãos.
Daí que eu resolvi chutar o balde.

- Olha Julio. Quer saber? Acabo, não quero mais saber de você, nem dos seus dramas. Seja feliz com qualquer pobre coitada que te agüente.

Depois disso me senti aliviada. Quando contei a minha mãe o que aconteceu, ela ria que chegava a chorar. Até a moça que trabalha em casa morreu de rir. Até eu morri de rir.
Por fim, ficamos duas semanas sem se falar. E como todo corno fudido e mal pago faz, começa a por frases dramáticas querendo chamar o Maximo de atenção possível.
Eu, como uma boa cidadã que não sou e nem pretendo ser, fui na maior das poucas e bocas intenções perguntar o porque das frases. E olha o que ele me disse.

- É, vou beber mesmo, encher a cara!

- Ok, entre em coma alcoólico então. – disse sem a menor dó.

- É, mas não pretendo entrar em coma alcoólico, pretendo morrer mesmo, é preferível a essa dor.

- Então morre! – disse. Eu estava morrendo de rir na frente do computador quando ele disse isso. – ah e não esquece que quando você for pro céu, rebola até o chão sem perder o controle pra Deus ok? Diz que é um presente de boas vindas.

E desliguei o Messenger. Eu já estava entrando em um colapso de risos.
Gente, eu realmente mereço um premio. Aparece cada figura na minha vida.

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

O Diario de uma Deusa





Era uma tarde como qualquer outra comum, mas para mim não era tão comum assim. Hoje era o dia em que minha tia Yoku vinha me visitar, pois era meu aniversário. Eu estava ansiosa esperando ela chegar, passei quase a tarde inteira na janela esperando papai chegar com a tia. Já estava começando a desanimar quando mamãe me chamou na cozinha para ajuda-lá com o jantar. E fui. Ajudei mamãe com a mesa e depois voltei correndo para a sala quando ouvi portas do carro batendo e uma certa discussão também.

- Meu deus George, ela tem que saber...

- Ela não tem 16 anos ainda Yoku!

- Mas falta 1 semana... ela tem que saber!

Abri a porta tão abruptamente quando ouvi a conversa e estava com a certeza que era sobre mim que até pensei que pudesse ser uma festa surpresa, mas como sempre, ninguém nunca me conta nada por que ainda sou nova.

- Saber do que titia?

- Ah, nada não minha queria. Não vai dar um abraço nessa sua tia não? – então a abracei com muita força. Logo mamãe apareceu na sala e chamou todos para o jantar, e já era hora, eu estava com muita fome. Ao decorrer do jantar, tentei arrancar algumas infomações da tia Yoku e de meu pai, mas foram tentativas fracassadas. Então já que não consegui nada, ao menos pedi para que minha tia me contasse aquela historia que eu tanto gostava. Sobre uma menina que fora assassinada quando criança e depois se tornara a rainha dos demônios. Era minha preferida. E titia Yoku sempre disse que eu parecia com ela, não sei por que.

Me deitei na cama e fiquei esperando minha tia vim ao meu quarto, mas ela estava demorando muito. Então, caminhei sorrateiramente pelo corredor para ver onde ela estava, e por fim, ouvi outra discussão. Nunca vi minha tia e meu pai discutirem tanto como estavam discutindo desde quando ela chegou.

- Ela vem comigo George!

- Ela não vai a lugar nenhum com você! Você fica enfiando historias na cabeça dela, a faz acreditar que se parece com uma deusa demônio e você quer que eu me acalme?

- É o destino dela!

- Só se for por cima do meu cadáver! – eu podia ver meu pai ficando vermelho, embora ele estivesse de costas para mim. Minha mãe não dizia uma palavra, estava atordoada e eu mais ainda.

- Olha que eu posso providenciar. – tia Yoku soou como ameaça.

- Yoku, sei que quer que Liz vá para o Japão com você...mas ela é uma cidadã americana, não pode chegar simplesmente e dizer: querida, você vai morar 10 anos no Japão comigo, isso foi um acordo que eu fiz com seus pais quando você nasceu. Ela nunca entenderia e nunca nos perdoaria.

Quando ouvi meu nome, e principalmente que eu teria que morar no Japão, meu tempo fechou. Como que se nuvens me cercassem. Acabei perdendo o equilíbrio e bati na porta sem querer. E quando isso aconteceu, olhei para minha tia e seus olhos estavam cravados em mim. Voltei correndo para meu quarto e deitei na cama. Logo a conversa cessou e logo ouvi barulhos de gente subindo na escada. Não demorou muito até que minha tia atravessa-se o corredor.
Ela entrou e fechou a porta. Logo se sentou em minha cama e ficou me olhando. Imagino a quantidade de pensamentos que estava passando por sua mente, por que na minha, parecia cena de cinema. Então por fim, ela resolveu parar de me olhar e começou a tentar explicar.

- Olha Liz...

- Como assim? Do nada querer me levar para um Japão!

- Não é do nada, minha querida... é que nossa família tem uma certa maldição... – a interrompi.

- Ah claro! E eu com certeza sou a amaldiçoada!

- Calma Liz... mas mesmo assim... você terá de partir para o Japão comigo.

- E se eu me recusar? – olha, eu sinceramente não gosto de ser mal educada com as pessoas, inclusive com familiares. Mas eu realmente estava começando a me aborrecer com aquela historia toda de maldição.

- Bom, daí você coloca todos em risco. Seus pais, seus amigos, e até aquele garoto bonitinho, aquele que você estava ficando...como é o nome dele mesmo?

- Leo...

- Isso, esse mesmo.

- Ta. Quando partiremos?

- No fim da semana. Isso lhe dará tempo para se despedir dos seus amigos.

- Ok, boa noite!

Nem esperei ela dizer ‘boa noite’ e logo virei de lado e cobri a cabeça com o cobertor. Meu isso é muito injusto sabe? Esperei minha vida inteira para fazer 16 anos, arrumar um namorado e ser descolada na escola. Daí chega minha tia que eu tanto adoro e me diz que vou ter que ir morar com ela no Japão? Ah qual é!
Minha noite foi horrível. Tive um pesadelo em que uma mulher e um orda de demônios estavam atrás de mim. Eu corria mas não o suficiente e um deles me segurou pelos braços e dizia com uma voz estranha, como agulhas caindo em um prato de metal.
Finalmente achamos a humana!! Há há há há!!
Finalmente seremos libertados!!!
]E então acordei em um pulo. Como que se aquelas garras estivessem realmente me segurando. Me levantei e fui até o banheiro jogar um pouco de água no rosto. Abaixei na pia e abri a torneira, quando levando o rosto e olho para o espelho quase caiu. Um vulto de olhos vermelhos me olhando. Vou para traz e me encosto na parede enquanto no espelho, o vulto escrevia.
A hora está chegando!
E logo desapareceu!
Eu realmente estava branca, até parecia um fantasma, sem brincadeira! Me aproximei do espelho para olhar direito o que estava escrito e era escrito em sangue. Então abri a torneira para lavar o rosto e limpar o espelho quando vejo que meu dedo indicador da mão direita estava sangrando. E então que eu desconfiei que aquele sangue no espelho poderia ser meu. Mas como que seria meu se não fui eu quem escrevi? Sinceramente? Estranho.
Por fim, desci para tomar meu café da manhã. Na mesa estavam sentados meus pais e minha tia. Não olhei para a cara de ninguém! Apenas peguei o meu leite com chocolate e duas torradas com manteiga e me sentei a mesa e me mantive em silencio. Eu realmente não estava com a menor vontade de ouvir todo aquele melo drama de : é para o seu bem, querida.
Já estava para me levantar da mesa quando meu pai me mandou sentar.

- Eu tenho que ir para a escola me despedir dos meus amigos, esqueceu? – o fuzilei com o olhar.

- Olha Liz, pode ser difícil de entender agora, nós não queríamos que você fosse, acredite.

- Tanto faz! Deviam ter me contado antes. Agora se me dão licença, tenho que me arrumar para o colégio.

E fui para o meu quarto sem olhar para traz.
Arrumei o cabelo o deixando meio bagunçado, passei um gloss nos lábios e vesti o uniforme da escola. Jeans e camiseta. Bem básico. Já estava descendo as escadas quando recebi uma mensagem no celular do Leo dizendo que estava me esperando no portão. Então apertei o passo, disse tchau a todos e sai. Entrei no carro e ele me deu um beijo muito doce, do qual eu realmente sentiria saudade...
A única coisa que consegui dizer depois do beijo foi ‘vou sentir saudades’. E então ele me olhou confuso e lhe contei o que minha tia me disse.

- E você tem que ir mesmo?

- Não tenho escolha... minha tia disse que é melhor para minha formação se eu estudasse em uma escola japonesa... ela já até me matriculou... mas vou sentir muito a sua falta... – e tentei lhe tocar o rosto mas ele se afastou e seguimos para a escola sem dizer mais nada. Até quando chegamos, ele nem mesmo me abraçou e aquilo foi me subindo o sangue de uma forma muito horrível.

Por que meu, eu já disse o quão injusto isso estava sendo para mim, mas depois que eu contei para o Leo, tudo piorou. Quando entrei na sala de aula, me sentei quieta em minha mesa. Até que a Molly e a Jane vieram ver se eu estava bem,e então, mais uma vez, contei a elas a historia. É claro que... não citei nenhuma maldição. E como o Leo fez, elas também se distanciaram. É, realmente o dia hoje vai ser ótimo!
Assisti a primeira e a segunda aula que eram de biologia, e eu amava biologia e amava o professor super gato que eu tinha. E já que eu iria me mudar para o outro lado do globo, resolvi matar a saudade daquela beleza. Quanto o sinal para a terceira aula tocou, peguei meu material e sai sem olhar para minhas amigas e meu suposto namorado. Fui para a diretoria e entreguei o papel que minha tia mandou entregar. O da minha transferência. Peguei toda a papelada e fui para o corredor em direção a saída, quando olho para a porta e vejo Leo parado na frente.

- Você não pode simplesmente ir assim...

- Claro que posso... estou indo já.... – e então ele me segurou pelo pulso, e eu odeio quando fazem isso. Ele se virou e me pressionou na parede e juntou seu corpo ao meu.

- Não quero te perder Liz...

- Leo...vai ser melhor assim... quanto mais perto de todos eu ficar...pior vai ser para mim e para você... – com relutância eu o afastei e sai correndo em direção ao campus da escola. Ele veio correndo atrás de mim mas antes que chegasse perto, entrei em um táxi e pedi que me levasse para casa.

Cheguei em casa chorando. Subi correndo as escadas sem falar com ninguém. Quem estivesse na sala sentado, veria eu, como um furação, atropelando tudo e subindo para o quarto. Entrei e tranquei a porta, não queria falar com ninguém.
Deitei na cama e chorei ainda mais, como que se algo tivesse sido arrancado do meu peito. Fiquei horas e horas lá, trancada e chorando até que uma voz diferente falou em minha mente e pediu para que eu me acalmasse.
O que na altura do campeonato, estava difícil. Mas a voz continuava mandando eu me acalmar, e dizia que tudo iria dar certo. Certo uma ova!
Então de tanto chorar, acabo pegando no sono, mas felizmente, não sonho com nada. Algumas horas depois, acordo com batidas na porta, e me levanto aborrecida para abrir. E era minha mãe.
Não disse nada, apenas a deixei entrar e voltei para minha cama. Ela trouxe duas malas grandes e as colocou do lado da cama e ficou me olhando até que finalmente falou.

- Liz se você soubesse o quanto isso me dói... te ver assim, chateada, aborrecida...

- Não, é você que não sabe o quanto isso me dói. Não são seus sonhos que estão sendo jogados ralo a baixo. Não é você que esta amaldiçoada, então vê se me erra!
Me doeu mais ainda falar daquele jeito com minha mãe, mas foi necessário. Eu estava já no auge da fúria e não queria que mais ninguém me enchesse o saco com essa viajem. Então ela limpou as poucas lagrimas que escorreram por seu rosto e saiu do
quarto fechando a porta.

Acabei saindo a cama para arrumar a porcaria das malas, já que eu partiria para a pior e não para a melhor como dizem...
Acabou sendo uma explosão de roupas voando para dentro da mala. Meu celular não parava de tocar e eu não atendia por que sabia que era o Leo. Meu email não parava de apitar, graças as minhas amigas que também me ignoraram. Por fim, terminei de arrumar tudo, e já era noite, umas onze horas por ai quando me sentei na frente do notebook e postei no twitter que partiria amanha cedo e que sentiria muito a falta de todos. Então desliguei tudo, coloquei o notebook na bolsa de viajem e fui dormir.
Logo pela manhã minha tia entra em meu quarto e me acorda. E claro que meu humor não havia melhorado. E sim...piorado.

- Acorde Liz...nosso vôo sai daqui a duas horas.

- Já vô! – e então ela sai do quarto e me deixa sozinha.

Olho pela ultima vez a vizinhança através da janela e me arrumo para viajar.
Depois de me arrumar, pego as duas malas e tento as arrastar para fora do quarto. Até que lá de baixo meu pai ouviu meu esforço com as malas e decidiu ajudar.
Tomei meu ultimo café da manhã em minha casa. Chegava a ser triste olhar para tudo e pensar que só depois de dez anos poderia voltar. Acordo estúpido!
Então fui para o carro. Nossas malas, minhas e de minha tia, já estavam lá. Me senti no banco de trás e esperei por meu pai e minha tia. Até que vieram e fomos para o aeroporto.
Meu celular desde ontem não parava de tocar. Até que mandei uma mensagem para Leo assim que fiz o chequim da passagem.

Por favor. Não torne isso mais difícil do que já está sendo.....

E com sorte, ele não respondeu. E foi até que bom. Pelo menos guardarei dele uma lembrança única. Uma boa lembrança...
Então deu a hora do nosso vôo, embarcamos e me preparei psicologicamente para doze horas de vôo. É...um verdadeiro chá de cadeira. Fiz questão de me sentar ao lado da janela. Encostei meu travesseiro nela e fiquei olhando para o chão assim que o avião decolou. Eu realmente estava exausta e acabei dormindo. E dessa vez, sonhei.

Eu estava em uma sala escura e totalmente fechada e a única coisa que estava em minha frente, era um espelho. Me aproximei para olhar minha imagem e a única coisa que vi foi os mesmos olhos vermelhos que me assustaram no banheiro ontem. Eu disse baixinho a ponto que só eu ouvisse mas por meu azar, como ultimamente estou tendo, a imagem me respondeu.

- Quem é você?... – disse.

- Eu sou você. – a imagem respondeu.

- Não me diga? Desde quando passei a ser um vulto com olhos vermelhos?

- Sou seu futuro!

- Ah que ótimo. Agora meu futuro é ser um fantasma. – e então o vulto começou a tomar forma e se transformou em uma mulher, se uns 20 anos de idade. Muito bonita. Morena assim como eu, mestiça de cabelos longos até os quadris e os olhos avermelhados que as vezes ficavam cor de âmbar, que era a cor verdadeira de meus olhos. Passei a mão por meu rosto e o mesmo gesto era refletido no espelho. Me afastei um pouco pois já estava meio aterrorizada com a cena. Mas não consegui conter a vontade de perguntar seu nome...

- Como...como você se chama?

- Já disse que sou seu futuro! – insistiu a imagem.

- Eu já entendi! – retruquei – mas quero saber seu nome.

- Ashura...

E então eu acordei em um pulo quando minha tia me chamou. Ela me perguntou se eu estava bem, pois estava gelada e suando frio. Contei a ela sobre o sonho e ela ficou quieta. Não me disse nada nem me explicou. Mas disse que conversaríamos depois, na casa dela. Então faltava duas horas para chegarmos ao Japão ainda...
Para passar as horas, abri meu notebook e conectei ao wi-fi do avião e comecei a procurar ao que respondesse a minha pergunta. Quem era Ashura?
As únicas historias que apareciam era a mesma que minha tia me contava. Sobre uma rainha dos demônios. Mas isso não explicava como e por que ela dizia que era meu futuro. Será q essa é a maldição? Impossível. Eu não estou possuída por uma rainha demônio.
Nessas ultimas duas horas minha tia não me disse nada. Ela via o que eu estava procurando na Internet e mesmo assim não dizia absolutamente NADA. Devo admitir que estava começando a me sentir furiosa novamente e antes que eu explodisse a aeromoça pediu para que colocássemos o sinto pois iríamos pousar. Então desliguei o notebook, insatisfeita, e o guardei na bolsa. Não demorou muito para pousar e logo eu estava em terra. No aeroporto japonês.


O estranho era que eu sabia muito pouco japonês e mesmo assim quando eu olhava para os kanjis conseguia entender o que estava escrito. Mas já que minha tia preferia tratar sobre o assunto em sua casa, resolvi não dizer nada.
Então pegamos nossas malas e fomos lá fora esperar por um táxi mas quando olho, vejo uma limusine nos esperando. Ta! Agora me senti uma superstar. Entrei no carro e me acomodei um pouco longe da tia Yoku. No Japão já era noite e então assim que chegamos em minha nova casa minha tia me deu boa noite e disse que conversaríamos no dia seguinte.
Acabei indo dormir puta da vida com ela e mais meio mundo. A casa era grande, meu novo quarto era grande e perfeito. Mas isso não diminuía o tamanho ódio que eu estava sentindo e a pura falta de orientação que e tinha. Coloquei meu pijama novo que me esperava em cima da cama. Era mais um kimono do que um pijama. Mas coloquei assim mesmo e tentei dormir. O que era impossível já que minha mente viajava no mundo das fantasias alucinógenas provocadas por uma deusa dos demônios imaginaria. Era isso que eu pensava cada vez que eu me perguntada que droga de maldição era essa.
Por fim, fui vencida pelo cansaço da viajem e dormi.
E mais uma vez, ela veio me encher o saco!

Eu estava novamente naquela sala escura. Mas dessa vez tinha um espelho e uma mesa com dois lugares, um de frente para o outro. Em vez da suposta deusa estar no espelho, ela estava sentada na cadeira e mandou eu me sentar a sua frente. E obedeci.
Ficamos nos olhando por alguns minutos eu acho. Até que não me agüentei e disparei em perguntar.

- Quem é você? Por que esta na minha mente? E por que diz que eu sou você?

- Nossa, como você é irritante. – disse a deusa me olhando com graça.

- Eu? – respondi indignada – eu carrego uma maldição, ouço de você que você é meu futuro e eu ainda sou a irritante nessa historia? Que lisonjeiro.

- Petulante! – disse com desdém

- Escute aqui! – eu já ia me levantar para dar na cara dela quando ela fez um gesto com a mão que me fez sentar novamente e sem conseguir falar.

- Assim está melhor. – e ficou me olhando enquanto eu tentava me mexer e falar. Por fim me acalmei e quando percebi podia falar mas não podia me mover.

- Bom. – foi a única coisa que consegui dizer e tentei me controlar para não manda-lá para o lugar da onde não deveria ter saído.

- Eu sou você Liz. Tente entender isso. E muitos virão atrás de você para mata-la e eu espero sinceramente que isso não aconteça. Posso ver que você é fraca e tudo o mais, porem sua aura é forte.

- Ah, fico realmente grata por ter me chamado de fraca. E realmente acho impossível que você seja eu.

- Olha garota. Minha ultima hospedeira morreu em uma semana por que não soube se defender. Se eu estou dizendo que é para você treinar, você TEM que treinar.

- Mas eu não sou um demônio para ser você. E treinar o que? Magia? Isso nem existe!

- Se não existisse você não estaria aqui presa no seu subconsciente. – disse com sarcasmo.

- Eu estou sonhando!

- Está! E também esta na hora de acordar. Já amanheceu e suas aulas de magia provavelmente começam hoje.

E como que se eu tivesse levado um soco no estomago, acordei em um pulo. Olhei a minha volta e eu estava em meu quarto mas meu braço queimava, como que se eu tivesse sido marcada. Quando olhei, uma marca em forma de rosa estava em meu pulso. Que ótimo, pensei.

Tudo o que eu queria a essa altura do campeonato, era uma tatuagem nova em forma de rosa em chamar com o nome Ashura escrito em kanji.

修罗

Reconfortante!
Era de fato o que eu queria no dia do meu aniversario de 16 anos!
Desci para tomar café da manha. Eu ainda estava de kimono e me sentia uma verdadeira gueixa. Encontrei um ou dois empregados pela casa, eu dizia bom dia em japonês para eles mas nenhum respondia. Bando de mal educados!
Fui até a cozinha e antes que eu pudesse entrar, uma senhor de uns cinqüenta anos mais ou menos me disse para ir até a sala de refeições e que minha tia me esperava. Obedeci e fui.
A sala era bonita. A mesa era grande e não tinha cadeiras e sim almofadas. Me ajoelhei em uma ao lado de minha tia e tentei comer o que tinha ali. Peixe, arroz, dentre outras comidas que eu não comia no café da manhã. Mas tentei.

- É bom se alimentar bem Liz. O dia vai ser cansativo.

- Não me diga!

- Não seja mal educada. –retrucou.

- Eu não estou sendo mal educada. É você quem me trás para o Japão, é você que não me explica por que a tal Ashura fica conversando comigo em sonho e é você que não me
explica o por que disso aparecer no meu pulso! – e mostrei a ela a tatuagem.

Pude ver que o brilho em seus olhos se apagou. Sua reação foi como que se tivesse levado um banho de água fria, mas bem fria na cara. E então ela me mandou terminar o café e enquanto isso, ela bebia chá. Assim que terminei, olhei para ela com cara de : ‘tipo assim, da pra falar?’.

- Sabe. A muito tempo atrás nossa família foi obrigada a cuidar e proteger as reencarnações de Ashura. Uma tarefa difícil, já que uma outra família foi mandada matar todas as reencarnações dela. Antes de você nascer, havia outra com o espírito de Ashura. Sua tia Tomoy era a guardiã... mas era fraca e não queria saber de treinar, só queria saber de festas, e tudo o mais.

- Nunca ouvi falar dessa suposta tia...

- Claro que não. Foi justamente um acordo que fiz com seus pais. Que aos 16 anos não deixaria que acontecesse o mesmo que aconteceu com Tomoy. Eu te treinaria e você sobreviveria. E não deixaria você morrer como ela morreu.

- E como ela morreu? – perguntei com receio...

- Melhor não saber.

- Mas se Ashura é a rainha dos demônios...qual é meu dever? Tocar o terror no mundo?

- Não. Seu dever é controla-la. Seu dever é impedir que os demônios a leve para o caminho das trevas.

- Você fala isso como se fosse tão fácil. Um mar de rosas...

- Não é fácil mas também não é impossível. Já perdemos tempo de mais. E agora que a
tatuagem apareceu, isso significa que vão começar a caça-la... vamos levante-se. Vou treinar você.

Não tive o que questionar. Se tudo aquilo era realmente verdade eu não estava nem um pouco afim de morrer as recém completados 16 anos. Apesar de tudo, eu já estava começando a me acostumar com a idéia de um deusa chata e petulante me enchendo o saco toda santa noite, ainda bem que durante o dia ela fica quieta. Segui minha tia até uma sala isolada da casa. Ela era meio escura e isso me lembrava o lugar onde a deusa chata e eu conversávamos.
Tia Yoku me entregou um kimono vermelho cor de sangue com detalhes em dourado e mandou eu ir me vestir. Fui e troquei de roupa e quando voltei, ela usava um kimono parecido, só que azul.


- Ta falando serio? Vou lutar com você? – disse meio sem jeito. Ela tinha o dobro da minha idade. Era estranho.
Mas não deu muito tempo para eu me defender. Ela levantou os braços e a pernas esquerda e gritou ‘Huu-fu’ e socou e chutou o ar e eu cai sentada.

- Mas o que foi isso!? – me levantei e limpei a roupa.

- Isso serve para derrubar o oponente a uma certa distancia. Agora tente me
derrubar!

- Ok... – e então refis os seus movimentos. Mas nada aconteceu. – que droga!

- Se concentre! – e la ficava ela. Parada e me olhando. Que ódio!

- Huu-fu! Huu-fu!!!!!!!! Huu-fu!!!!!!!!!! – mas nada acontecia. Eu já estava começando a ficar cansada e aborrecida o bastante para ir eu mesma perto dela e dar-lhe uma rasteira. Então me concentrei pela ultima vez e gritei a plenos pulmões. Soquei e chutei o ar com muita força. – HUU-FU!!!!!!!!!!!!! – e então minha tia simplesmente voou para o outro lado da sala. Corri até minha tia para ver se ela estava bem.

- Você está bem? Eu não queria te machucar... o que foi aquilo?

- Seu poder...alias...o poder de Ashura... – dizia minha tia com certo pesar...

- Mas você esta bem? – a ajudei a se levantar.

- Sim...agora vou lhe ensinar outro golpe...


Eu me afastei como ela havia pedido. Ela juntou as mãos como que se fosse meditar e então ela abriu a mão e a estendeu em minha direção. Quando abriu os olhos, eles estavam em chamas. E então ela sussurrou ‘ tsuki no umi’ e sobrou em direção a mão e uma onda de chamas veio em minha direção. Tive que me abaixar para não ser queimada viva.




- Tente! – disse ela.

- Meu! Se você não tem espírito nenhum, como pode usar magia?! – respondi indignada.

- Para ter magia basta acreditar nela Liz.

- E por que não foi você que hospedou o espírito dessa Ashura?

- É aleatório. Mas tem regras. Se você tiver uma filha mulher e em menos de dois
anos ter outra, o espírito pode se alojar em uma delas. No seu caso, você é mulher e no prazo de dois anos sua mãe não quis outra filha.

- Ah ta!

Tentei me concentrar. Juro que tentei. Mas era tanta coisa na minha cabeça que eu mal conseguia executar a magia.
Minha tia gritou comigo basicamente a tarde inteira para que eu me consentra-se e eu dizia a ela repetidas vezes que estava tentando. Ela me alertou também que se não tomasse cuidado, poderia sair com queimaduras muito feias. E pela primeira vez a deusa chata resolveu dar sinal d vida, durante o dia.
Você esta fazendo errado! Mostre raiva! Punho firme! Abra a mão de vagar e sobre docemente! Faz direito menina mortal!

Ela falou tantas vezes na minha cabeça que não consegui segurar a vontade de manda-la calar a porcaria daquela boca.

- Aiii cala a boca! Se não ta gostando, procura outra hospedeira. Que saco! – e fechei os olhos. Respirei fundo. E voltei a treinar. Quando olhei para minha tia ela estava boquiaberta. – que foi tia?

- Como ousa falar assim com uma deusa. Ela pode mata-la.

- Se ela quisesse já teria feito. – voltei a treinar.

Treinei sem sucesso o resto do dia. Aquela magia era realmente difícil. Por fim, fui dispensada do treinamento. Eu e minha tia fomos jantar e depois eu fui para meu quarto. Tomei um banho quentinho e vesti o kimono roxo, aparentemente novo, que estava em cima de minha cama.

Olhei para o espelho e lá estava a dona das chatices.

- Que que é? – resmunguei.

- Boa noite... – disse ela sem jeito.

- Boa noite... – sorri sem jeito. E fui para a cama. Felizmente, mas muito felizmente mesmo Ashura me deixou dormir. E não sonhei com nada.

A noite foi perfeita. Consegui descansar, pois estava muito cansada por conta do tal treinamento. Não vou negar que ainda estava achando tudo isso muito estranho, mas procurava não pensar nisso. Os outros dias se passaram iguais, sem nenhuma mudança. Continuei treinando mais e mais a cada dia e mesmo assim não consegui dominar o poder do fogo, era como que se meu corpo bloqueasse o elemento. Minha tia gritava comigo freneticamente para que eu me concentrasse mas não era tão simples assim. Eu já estava treinando a dez dias e nada...nenhum avanço. Era frustrante.
Minha tia acabou me dando o fim de semana de folga. Acho que ela desistiu de mim. Mas como tudo que é bom,dura pouco... ela me mandou passar o meu fim de semana que eu poderia estar gastando nos shopping, em uma biblioteca cheia de livros velhos, estudando a magia oriental. Me poupe!
Ela me mandou ler um livro com kanjis com os quais eram tão antigos que eu não conseguia entender o nome do livro, mas tentei ler.
O livro contava a historia da magia desde o inicio dos tempos. Da criação dos deuses e dos três mundos. Era uma historia legal para se ninar uma criança que tivesse nascido e crescido com essa cultura, o que não era o meu padrão. O que eu achei interessante no livro, era que tudo sempre chegava a um ponto. As trevas. Os demônios. A Ashura.
Cada pagina que eu lia, me interessava ainda mais. E por incrível que pareça era como que se minha mente e a dela fossem ligadas. Eu visualizava as imagens que eu lia no livro como fatos que eu talvez pudesse ter presenciado.


Sua morte, suas reencarnações e até mesmo o cara que tirou sua vida. Seu verdadeiro amor. E ao visualizar essa cena trágica de sua morte, um nó se formou em minha garganta... eu sentia saudades de casa. Sentia saudades das minhas amigas e inclusive saudades de Leo. Dês da mensagem que eu lhe mandei do aeroporto, ele nunca mais falou comigo e isso me corroia por dentro. Não consegui conter as lagrimas nos olhos e por fim, deixei que corressem. Pelo menos, era um desabafo.
Procurei me concentrar na leitura. Não culpava minha tia quando ela gritava comigo, eu realmente não tinha concentração nenhuma. Ainda mais em aulas de historia que tentava fazer com que aprendêssemos as culturas locais e mundiais. E para mim, aquele livro era cultura inútil.
Eu já estava com fome, por isso fechei o livro e fui para a cozinha. Era tarde da noite e como eu tinha certeza de que os funcionários da casa estariam dormindo, pensei em eu mesma fazer um lanchinho. Mas para meu eterno desagrado, mal entrei na cozinha e uma mulher que supus que trabalhasse como cozinheira veio gritando para cima de mim em japonês arcaico e imaginei que estivesse me mandando sair de seu santuário.
Bati o pé e tentei de tudo para que ela me entendesse mas de nada adiantou. Então resolvi acordar a minha tia. Se fosse para mim ficar anos naquele lugar,os funcionários no mínimo deveriam me entender!
Passei por inúmeros corredores até chegar em seu quarto, e coloca corredores nisso. Bati na porta e ela me mandou entrar.

- Achei que estava dormindo...

- Não... eu estava terminando de arrumar alguns documentos. O que deseja Liz?

- Bom...eu terminei aquele livro idiota... – e quando eu disse idiota, ela realmente me fuzilou com os olhos. – e eu estou com fome. E aquela louca da cozinheira não me deixa entrar na cozinha para fazer um lanchinho!

- Ela não fala inglês, Liz.

- Eu tentei falar em japonês, mas ela não entende!!!

- Tentou o japonês arcaico?

- Fala serio! Eu mal falo o japonês moderno e você quer que eu fale o antigo?

- Peça ajuda a deusa...

- Ah lógico... agora eu tenho que me submeter a uma deusa para falar japonês.
Ótimo! – dei as costas e sai andando para a cozinha novamente e chegando lá, antes de entrar eu tentei falar com a deusa rainha chata.

Me concentrei e a procurei em meu corpo, em meus pensamentos. Não conseguia a encontrar em lugar algum. Já estava começando a desistir de comer quando a vi em suas antigas memórias. A de sua primeira morte.
Foi como que se ela estivesse visto eu a observando e logo a imagem sumiu e como que se ela falasse por mim e agisse por mim. Passei pela porta da cozinha e disse algo em japonês arcaico que a mulher entendeu e me deixou entrar. Depois disso, voltei a mim e Ashura havia sumido de meus pensamentos. Murmurei um obrigado e fui até a geladeira fazer meu lanchinho.
Nunca comi tão bem em toda a minha vida. Quem diria que depois de treze dias, um belo lanche completo com duas latas de coca cola salvariam minha vida.
Depois de satisfeita, voltei para meu quarto e tentei algo que nunca havia me ocorrido tentar. Me sentei na cama e comecei a meditar. Era estranha a sensação de ficar parada, em posição de lótus e tentando me concentrar em meu interior. Meditei por horas a fim de achar Ashura, mas a única coisa que eu consegui encontrar, foi uma cena perfeita de sua morte. Eu sabia que os homens eram totalmente insensíveis, mas a forma com que ele a tratou, foi horrível. E como todo o sempre, depois que eles fazem o que fazem, caem na real e quando vêem não tem mais tempo de concertar o erro e tudo se perde.
Depois que seu amado a descobriu que ela era a rainha dos demônios, sua primeira reação foi a de mata-lá. Claro! Seu dever era esse. Destruir demônios. E ele não perdeu tempo. Mas logo depois não conteve o remorso e a culpa e se matou também. Belo final feliz.
Eu sempre ouvia essa historia quando era pequena, mas vê-la como em um filme, era realmente diferente. Era mais doloroso...
Depois que o suposto filme acabou, reparei que ela estava parada ao meu lado. O cenário começou a mudar e estávamos de volta a sala escura, com o espelho e uma mesa com duas cadeiras. Me sentei e não disse nada, e ela fez o mesmo. Seu olhar era triste e profundo e o pior era que eu sentia sua própria dor.

- A vida é realmente difícil depois que se passam séculos e ainda assim...tentam te matar... – disse ela com amargura.

- E por que você volta a vida todos esses anos? – eu sei que não era a melhor hora para perguntar, mas...se íamos compartilhar o mesmo corpo, eu tinha o direito de saber.

- Você não entenderia...

- Tente me fazer entender... – pedi.

- Liz, por ódio a gente mata e por amor a gente morre. Um dia você vai ter de matar por ódio, ou morrer para salvar seu grande amor. – disse ela como que se já tivesse feito isso milhares de vezes.

- Eu nunca morreria por amor! – disse mais que de pressa.

- Não mesmo? Nem que isso fosse o único jeito de salvar aquele que você ama? – em seus olhos eu pude ver um mar de tristeza.

E foi assim que eu entendi a historia. Ashura havia aceitado ser morta para salvar seu amado do lacaios demônios que o matariam mais cedo ou mais tarde. Mas seus esforços foram em vão pois ele se matara no final.
Eu fiquei ali, parada. Sentada aturdida com o que ela havia me falado. Mas isso também não explicava o fato dela voltar repetidas vezes ao longo dos séculos.

- Mas, rainha. Isso não explica o fato de você voltar todas as vezes.... eu não entendo.

- A gente sempre se apaixona de novo, criança. É o maior erro imortal que cometemos. Nos apegamos aos humanos, e sempre somos mortos no final...

- Eu acho isso tão difícil de entender...

- Não é para entender. Agora acho melhor ir descansar. Durma.

E então tudo ficou escuro. Perdi o chão e os sentidos. Apenas acordei no dia seguinte deitada em minha cama e coberta pelo cobertor. Quando acordei me sentei na cama e fiquei pensando em minha conversa com a rainha na noite anterior. Foi então que tomei uma decisão. E acho que foi a coisa mais sensata que eu já fiz na vida. Que foi me dedicar totalmente aos treinos. Mas naquele dia, eu ia ao shopping fazer compras.
Minha tia ficou insistindo horrores para que eu ficasse e treinasse ainda mais. Só que eu realmente precisava fazer compras. E ir urgentemente a um cabeleireiro. Eu estava horrível. Mas como sempre, eu venci a batalha! Ela apenas me orientou para que eu não andasse por lugares escuros e nem dar confiança para qualquer idiota.
Cai de casa e fui andando até o metro. Por sorte o shopping não ficava muito longe de casa. O estranho era que as pessoas me olhavam estranho e eu sabia o motivo. Por eu ser mestiça. Eu sabia que eles eram meio preconceituosos mas não pensei que fosse tanto.
Assim que eu me sentei no banco, dentro do metro. Um menino muito bonito, e claro, japonês. Se sentou ao meu lado e estava lendo um livro super legal que eu li no começo do ano. Imortais. Novidade né?? Rsrs
Bom então deixe-me atualizá-los.
Imortais foi o livro mais romântico que eu já li. Ele conta varias historias sobre imortais e humanos. Sobre seus amores impossíveis e sobre seus desejos mais profundos. E por um breve momento, lembrei em tudo o que a rainha havia me contado.
Olhei de soslaio para o menino para tentar ver em que capitulo ele estava, mas não consegui ver. E ele vendo o que eu estava tentando fazer, ele sorrio.

- Oi...- disse sorrindo.

- Ah oi...- corei.

- Tudo bem? Esta indo para onde? – lê continuava sorrindo. E pela primeira vez desde que cheguei ao Japão, eu me senti bem e feliz.

- Ah estou indo para o shopping. Me desculpe por tentar ver em que capitulo você estava...

- Não tem problema. Eu estou no capitulo Livre, sabe? E eu também vou para o shopping, quer companhia? – sorrio.

- Esse capitulo é o meu preferido. É quando a mulata se torna vampira e mata quem a transformou e ela ganha sua liberdade. E sim, aceito sua companhia. – sorri ainda mais radiante.

Conversamos mais um pouco durante todo o trajeto até o shopping, até mesmo depois do metro. Ele me disse que se chama Michel e achei um nome diferente para um japonês. Mas ele me disse também que sua mãe era japonesa só que nascida nos EUA e seu pai japonês nascido no Japão. Por isso o nome diferente. Ache o maximo poder conversar com alguém sem ficar perguntando como pronunciava tal palavra e o achei super simpático também.
E então chegamos no shopping. Fiquei admirada com o tamanho. Era enorme!
Nos entramos e fomos andando um do lado do outro. Daí depois de andar um pouco a gente acabou indo para a praça de alimentação tomar um sorvete. Tinha um sabor diferente mas era muito bom o que eu peguei.
Michel se sentou a minha frente e conversamos e tomamos nosso sorvetinho. Havia horas em que ele parava e me olhava. Como que se eu fosse uma deusa. Mas eu estava adorando!
Ele me contou muitas coisas. Ele é formado em espanhol, inglês e francês. Tem dezoito anos e é perfeito. Pena que a maior idade aqui no Japão é vinte e um.
Me diverti muito naquela tarde. Mas infelizmente tive que ir embora. Minha sorte foi que quando cheguei ao Japão, minha tia havia me dado um celular com chip daqui. Então assim que Michel pediu me telefone, passei mais eu depressa e alegremente. Rs.


Por fim ele me acompanhou até em casa e fez questão de me levar até a porta. Assim que entrei, subi correndo ate meu quarto e quase fundi meu rosto com o vidro da janela para ver ele indo embora. Ele era perfeito. E agora que estamos a sós posso descreve-lo.
Alto e magro. Um corpo ate que atlético. Seu cabelo preto era totalmente repicado com algumas luzes douradas para dar luminosidade ao rosto. Simplesmente um deus grego japonês. Que combinação lógica, não? Como sou criativa.
Mas não demorou muito para Yoku explodir por minha porta perguntando a onde eu estava e por que eu passei quatro horas fora de casa. Meu! Toda mulher sabe que quatro horas em um shopping é pouco! E eu ainda nem fiz tudo o que eu queria ter feito. Apenas comprei algumas roupas, fiz hidratação no cabelo e fiz as unhas. E o mais engraçado, foi que Michel me fez companhia todo esse tempo. Que fofo!
Como já era tarde, minha tia resolveu me deixar descansar. Ela apenas me perguntou se o menino era tão bonito assim, disse que era e mesmo assim ela ficou receosa.
Fui tomar banho e assim que sai da sai do banheiro, havia um kimono preto em minha cama. Eu realmente estava começando a me perguntar quantos kimonos havia naquela casa! Mas o vesti e devo admitir que fiquei linda. E então me deitei na cama e tentei me prepara para dormir. Mas a Ashura resolveu me provocar.

Assim que entrei no meu subconsciente, acabei dando de casa com uma sala diferente. Era uma sala de estar comum, com duas poltronas, uma de frente para a outra. No meio entre ambas, havia um tapete de pele de onça com uma mesa de centro com uma jarra cheia de chá com duas xícaras. Não esperei por um convite e então me sentei.
Mas dessa vez Ashura demorou para aparecer. E quando resolveu dar o ar da graça, seu cabelos estavam trançados e ela usava um kimono preto, igual ao meu. Quando ela disse que era um futuro, eu esperava que no mínimo ela tivesse gosto próprio também.
Ela andou vagarosamente até a poltrona a minha frente e se sentou, se serviu com um pouco de chá e me serviu também. Bebemos em silencio e ela materializou alguns biscoitos e comemos. Embora fosse sonho, me senti satisfeita. E então me cansei do silencio e perguntei.

- Por que me trouxe aqui? – ainda bebi um pouco do chá. Realmente era bom.

- Apenas vim preveni-la. – e pela primeira vez, vi Ashura seria.

- Hm mas me prevenir do que? Não estou em perigo.

- Não mesmo? E como vai o Leo, tem pensado nele? – disse ela em tom sarcástico.

- Não... eu sai com o Michel, você estava lá.

- Sim estava. E sei dos seus sentimentos também. Não cometa os mesmos erros que eu Liz. Os demônios são muito traiçoeiros...

- Mas ele é apenas meu amigo. – retruquei.

- É mesmo? Então por que você se lamenta por não te-lo beijado? Não se esqueça que eu sou você.

E tudo começou a girar. A sala se dispersava e tudo começou a sumir aos poucos. Até que eu acordei assustada e indignada. Não conseguia acreditar no que Ashura havia me falado. Foi só um dia era impossível eu gostar dele. Mas assim que olhei para meu celular havia uma mensagem nele e quando olhei, acabei suspirando. E em minha mente ouvi uma gargalhada horrenda. E logo pensei... cala a boca.

Hey Liz.
Aqui e o Michel, tudo bom?
Então, quer assistir um filme hoje?
Aguardo respostas.




Não demorou muito para mim responder.

Oi Michel.
Então, aceito o seu convite.
Beijos.


Me troquei e desci para tomar café da manha. Minha tia estava de bom humor, o que para mim foi um alivio. Eu comecei a me acostumar com a comida e comi muito. Então subi para meu quarto e troquei de roupa. Dessa vez o kimono era branco e me encontrei com a minha tia na sala de treinamentos novamente.
Minha tia estava sentada no centro da sala meditando. Quando entrei ela apenas disse para que eu praticasse mais a magia do fogo. E foi o que fiz. Mas dessa vez foi muito mais fácil, como que se eu já soubesse como fazer. E eu já sabia...mas dessa vez eu consegui. Como que se eu e a rainha estivéssemos em sintonia.
Eu me concentrei totalmente mesmo. Estendi a mão e quando a abri e soprei, o fogo surgiu. Só que o fogo era azul. Eu realmente estava orgulhosa de como eu havia feito. E também pela cor do fogo. Era lindo.
Então minha tia resolveu me passar um novo exercício.

- Vamos lutar.

- Mas eu nem sei lutar! – e nisso ela me jogou uma espada.

- Peça a deusa. – e partiu para cima de mim.

Não tive muito tempo, a única coisa que eu conseguia fazer era me esquivar. Eu gritava em minha mente para que a rainha me ajudasse mas estava difícil. A demoníaca não respondia. Então eu comecei a correr da minha tia. Eu estava prestes a colidir com uma mesa muito grande se não fosse a Ashura aparecer finalmente e me fazer pular alto, empunhar a espada e saltar de volta em direção a minha tia.


Ela guinou para traz, mas eu continuei atacando. Era como que se eu estivesse dançando. Perfeito, pensei. Continuei tentando desarmar a minha tia, mas ela realmente era boa. Mas eu acreditava que milhares de século em lutas, poderiam me ajudar a vencer. Então resolvi experimentar a magia que eu havia aprendido a algum tempo atrás em combate. E gritei ‘Huu-fu’ e minha tia caiu sentada e sua espada voou longe.
Quando toda aquela explosão de adrenalina passou, eu cai sentada. Sem fôlego. Realmente exausta. E então pensei que pudesse ter gastado uma quantidade absurda de energia usando os poderes da rainha e os meus ao mesmo tempo.
Minha tia se levantou com um pouco de dificuldade e depois veio até mim e me estendeu a mão. Já eram quase quatro horas da tarde. E o treino acabaria em uma hora. Ela sugeriu que treinássemos uma magia simples que apenas servia para desaparecer.

- Desaparecer como? – perguntei.

- Desaparecer tempo o suficiente para arrumar um esconderijo seguro. É útil contra demônios pois por 10 minutos, seu cheiro humano é encoberto.

- A ta. – fiquei a olhando meio sem entender. – e como é?

- Repita comigo. Mashii. – e então repeti com ela. Essa magia pelo visto não exigia muita concentração, pois assim que pronunciei a palavra, meu corpo todo começou a desaparecer. O que achei divertido. Fiquei ali sentada então esperando os dez minutos passarem até eu voltar a ser visível.

- Nossa, adorei essa magia. – ri um pouco.

- Ah Liz, antes que eu me esqueça... o perfume da deusa é visível em sua aura. Cheiro de cerejeira. O treino acabou. – e antes que ela saísse da sala. Pedi a ela para ir ao shopping e ela deixou, porem desconfiada.

Então subi as pressas para meu quarto e fui direto para o banheiro. Realmente esse banho renovou minhas energias. Eu sequei o cabelo e fiz uma trança lateral. Fiz uma maquiagem leve, mas passei delineador nos olhos. Como eu sou mestiça, meus olhos não eram finos como os dos japoneses. O que ajudou, pois o delineador realçou meu olhar. Passei um batom rosa e coloquei uma roupa simples. Jeans com uma blusa decotada, uma sandália com salto baixo e fui para o shopping.
Chegando lá, eu mandei uma mensagem para que Michel me encontrasse em frente ao cinema, e não demorou muito para ele aparecer. Compramos as entradas e fomos ver o Príncipe da Pérsia.
O filme durou cerca de duas horas. E eu amei. Adorei principalmente a cena em que o ator principal tenta não cair no abismo de areia que se abre no deserto. Nossa que adrenalina. Mas ó, vou contar uma coisa a vocês... Michel beija muito bem. Assim que saímos da horda de pessoas que também saindo do cinema, fomos tomar um sorvete. Ele era tão fofo comigo.
Estávamos então andando pelo shopping quando um casal se aproxima de nós e cumprimenta Michel e me olham com uma cara estranha. A mulher sussurra ‘ cerejeiras’ e o homem, não se contendo, diz em voz alta.

- Você!

Fiquei olhando perplexa. E não era pra menos. Como que do nada alguém que você nunca viu na vida, chega e grita ‘você’. Eu heim...
Até mesmo Michel ficou me olhando horrorizado. E em minha mente, apenas ouvi Ashura gritar.

CORRE! – e sem contraria-la, disparei em correr. Murmurei o feitiço Mashii e desapareci no mesmo instante.

Sai do shopping e fui direto para o metro. Graças a deus que eu os despistei. Assim que cheguei em casa. Subi correndo e comecei a arrumar minhas malas. Minha tia apareceu no quarto assustada e me perguntando para onde eu ia. E então contei a ela o que aconteceu e ela apenas disse que confirmei as suas suspeitas. Mas que a melhor coisa a fazer não era fugir. Era ficar em casa onde eu estava protegida por magia.



Eu olhei para ela em prantos. Ela disse que ia até a cozinha me preparar um chá e que logo voltaria. E então eu peguei meu celular e la tinha uma mensagem de Michel.

Como?
Logo você...eu confiei...


E logo uma onda de raiva e ódio misturados com tristeza, dor e magoa se uniram. Não estava acreditando que ele estava me culpando por uma coisa que eu nem fiz. Eu não pedi para hospedar a porcaria de uma deusa rainha dos demônios. Muitos menos pedi para me mudar para o outro lado do mundo longe de todos que eu amo. Foi então que eu explodi. No sentido figurado. Serio. Uma onda de calor percorreu por corpo. E peguei aquela porcaria de celular e acabei com ele.

Olha queridinho.
Lamento por ser o que sou. Pode dizer o que quiser.
Queria apenas que acreditasse em mim.
Mas sinceramente, se depender de você, eu estou morta.


E então mandei uma mensagem para minha mãe: to ferrada!

E joguei o celular longe.
Minha alma ardia, como que se ate mesmo Ashura estivesse com raiva. Mas sem motivo,pensei. Eu sentia minhas costas queimando como que se o próprio fogo desenhasse nela. A dor era tão grande tanto por dentro como por fora que acabei desmaiando em cima da cama. E cai em mais uma lembrança de Ashura.

A cena era comum. Um pequeno bosque onde as arvores de cerejeira estavam dando flores. Havia uma pequena criança de cabelos longos e negros brincando com uma boneca. Ela aparentava ter uns dez anos. E então me perguntei onde estariam seus pais. Mas as sombras se moviam e eu achei estranho.
Não havia sequer uma ave no local. Era um silencio total. Até que um homem alto, bonito e um pouco moreno por causa do sol se aproximou da garotinha.
Ele se aproximou por trás dela e quando ela olhou para ele, ele sacou a espada e a enfiou em suas costas. Eu fiquei chocada. Como um homem poderia matar uma simples criança inocente. E foi ai que um flash me atingiu. Aquela criança era Ashura no momento em que ela conheceu seu único e verdadeiro amor. Aquele que desencadeou a maldição.
E naquele momento, naquele exato momento eu senti um ódio maior ainda por conta disso. Era por causa dele que minha família recebeu a maldição. Idiota! Foi a única coisa que consegui dizer antes mesmo da imagem sumir e a rainha aparecer em minha frente.


- Não acredito que ele fez isso. – disse incrédula.

- Quem não acredita sou eu. Como você foi tão idiota ao ponto de ter ido ao shopping. Você estava bem escondida. Maldito foi a hora de seu nascimento. Petulante!

- Eu tive sorte. Não enche. E se não esta feliz, vaza!

- Não existe sorte. A um significado para cada pequeno ato. Se você não conhecesse
aquela magia, teria morrido. E então tenha uma filha que eu saiu! - eu odiava ter de admitir, mas Ashura tinha razão. Eu não tive sorte, eu tinha uma magia.

- Acho melhor você adormecer. Se você dormir até ter idade o suficiente para que eu assuma o comando finalmente, é melhor mantermos você em segurança.

- Não! Não pode simplesmente se apossar definitivamente do meu corpo.

- Não tem escolha. Não gosto de fazer isso. Mas não posso correr riscos. Não dessa vez. Não posso deixar o mundo por mais 16 anos. Até la os demônios já terão destruído o mundo. – tive apenas tempo de segurar a respiração quando um raio de luz verde me acertou. E eu cai para trás. Estava ainda consciente mas creio que por muito pouco tempo. Eu me sentia fraca, como que se eu estivesse me desintegrando.

Não conseguia acreditar que isso estava acontecendo. Eu tinha poucos minutos até dormir por completo. Minha alma estava pesada e eu podia ver um pequeno filete de aura vermelha a minha volta. Será essa a cor da minha alma? Não, não não! Isso não podia estar acontecendo. E então, dormi.
Segundo a minha tia, ela pensou que eu havia entrado em coma. Quando ela me viu no estado em que eu estava ela surtou literalmente. Achou que eu estava morta mas quando se virou para o espelho e nele havia uma mensagem.

Ela esta em boas mãos.

Minha tia me disse que presumiu que eu estaria bem com Ashura e por isso me deixou trancada em um quarto por melhos cinco anos. A casa onde eu estava adormecida havia sido atacada inúmeras vezes pela família de Michel que por meu azar mortal era a família designada em me destruir. Que bonitinho.
Embora ele tenha sido um tremendo filho da mãe, não vou negar que aquele sorriso me encanta até hoje.
Minha tia teve de reunir toda a nossa família para ficar na casa e me proteger. Alias, proteger a deusa. Por que sem ela, ninguém faria nada por mim.
Soube também que os demônios fizeram a festa sob minha ausência. Eu sei que no mundo deles não existe ordem, existe apenas o caos. Mas mesmo assim. Eles exageraram bonito.
De qualquer forma, meu corpo estando adormecido eu estava indefesa e sem proteção. E até fiquei grata, pois tirei cinco anos de férias e eu tinha a certeza de que quando acordasse, eu não tiraria férias tão cedo.
Quando finalmente a rainha decidiu libertar minha alma, era apenas a alma, a minha consciência. Pois o corpo continuava inerte.
Ela me treinou durante todo esse tempo. E foi até melhor do que treinar com minha tia. Ashura me conhecia e sabia meus limites e ela não abusava.
Aprendi todo o tipo de magia que vocês possam imaginar. Aprendi a materializar objetos, criar servos e controlar a mente das pessoas. Era meu poder preferido.
Eu ainda estava ressentida com ela por ter me trancado. Mas como foi para minha própria segurança resolvi relevar algumas coisas.
Com o passar dos anos aprendi que Ashura era como uma irmã mais velha que cuidava de mim. Eu sabia que um dia, quando eu acordasse, ela assumiria o controle e eu não poderia fazer nada a respeito.
Um dia eu perguntei a ela se teria como eu e ela nos separarmos e ela apenas disse que isso me mataria. Pois minha alma era a alma adolescente dela que quando crescesse sumiria e ficaria apenas as memórias. Ou seja, eu sou ela. Pelo menos foi a conclusão que eu cheguei.
Quando finalmente eu aprendi tudo o que tinha de aprender, convenci Ashura de que estava na hora de acordar. Ela concordou. E então quando eu acordei e olhei para o teto. Estava tudo igual. Como que se tudo estivesse congelado por anos. Por incrível que pareça meu corpo não doía por causa do excesso de sono. Eu me sentia forte e poderosa. Quando me olhei no espelho, assustei. Nesses cinco anos eu estava igual. E então a voz de Ashura falou no lugar da minha.

- Os imortais não envelhecem. – e sorrimos juntas.

Ela sabia que eu odiava a idéia dela comandar meu corpo a maior parte da minha vida, era horrível. Mas daí eu me lembrei que antes de desmaiar, minhas costas queimavam. E então abri o kimono e me virei de costas e um dragão tribal estava desenhado nela. Quase cai dura desmaiada novamente. Mas em volta dele pequenas pétalas de cerejeira o cercavam. A imagem em si era bonita. Mas eu nunca quis uma tatuagem.
Quando me virei de frente para o espelho era eu no comando e meu reflexo era Ashura. E conversamos brevemente.

- Olha Liz, nosso caminho será difícil e espero que confie em mim.

- Confio. – sorri e fechei o kimono.

Olhei para meu celular e estava de noite. Desci para a cozinha pois fazia cinco anos que eu realmente não comia. Assim que apareci e vi meus pais la, fiquei super feliz. Minha mãe pulou da cadeira e me abraçou. Meu pai, apenas sorrio.
Assim que minha mãe se afastou, abracei minha tia que logo me disse que o jantar estava pronto. Comi em silencio e como louca. Vocês não fazem idéia do que é passar cinco anos a base de chá e biscoitos no seu subconsciente.
Quando terminei, meu celular tocou. Vi no nome: Michel.
Me afastei de todos para atender.

- Alo?

- Finalmente acordou. Estou ansioso para nosso encontro. Me encontre no parque em uma hora.

E o desgraçado teve a pachorra de desligar na minha cara. Avisei minha família, que obviamente tentou me impedir. Mas eu disse que era algo que eu e Ashura tínhamos que resolver e subi para meu quarto para me trocar.
Assim que entrei vi um kimono vermelho curto. Obviamente de luta. O vesti e desci correndo. Fui o mais rápido que pude até o parque.
Quando cheguei vi um moço alto, forte e bonito sentado no banco, me aproximei dele mas fiquei a dois metros longe. Como ele havia mudado. Estava mais velho. Nesses cinco anos ele estava com vinte e três já. Mas continuava bonito como sempre.
Assim que percebeu minha presença, me encarou friamente nos olhos.




- Quem esta no comando? – disse ele com frieza.

- Eu, Liz. Cinco anos se passaram e nem um ‘oi tudo bem com você?’ você me pergunta. Que galante.

- Caso não tenha percebido, o tempo passou para mim e não para vocês.

- Não sou cega.

- Por que não me disse o que você era? – me olhou com tristza.

- Lógico! Vou sair por ai dizendo a todo mundo. Hey gente. Eu sou a reencarnação da deusa rainha Ashura. Claro que vou!

- Irônica.

- Idiota. – rosnei.

- Mas continua bela. – ele se aproximou de mim e colocou a mão em meu rosto. Mas eu estava esperta. A única coisa que ele queria era me matar. E era o único que conseguiria pois era de quem eu gostei nesses últimos cinco anos presa. Ele aproximou seu rosto do meu e me beijou. Foi doce e gentil como da primeira vez. Mas dessa vez, eu senti um gosto de raiva. Assim que nos afastamos eu continuei perto o suficiente para dizer o que eu queria.

- Sabe Michel. Dizem que por ódio a gente mata e por amor a gente morre...

- Sim, eu sei... – ele me olhava nos olhos. Mas eu não podia permitir ser caçada novamente.

- Então. Não estou disposta a morrer por você. – e nesse momento, minha mão
atravessou seu peito até chegar no coração. Eu o senti pulsar. Eu sabia que um dia me arrependeria mas minha vida era mais importante. E isso aprendi com Ashura.
- Liz... – foram suas ultimas palavras.

Arranquei seu coração em meio a choros. Eu podia hospedar uma deusa mas mesmo assim ainda era humana. Fiz questão de eu mesma o enterrar. Foi triste mas necessário.
Se ele continuasse vivo, me caçaria ate conseguir me matar. Eu não poderia ter uma vida com ele. Então preferi, sem ele. Por mais que me doesse...

Assim que voltei para casa, contei tudo a todos. Minha tia disse que eu fiz o certo mas ainda não acho certo matar um ser humano. Por mais que ele queira me matar.
No restante do ano, o visitei todos os dias naquele parte, embaixo da mesma cerejeira onde Ashura fora morta quando criança por seu único e verdadeiro amor.
Ashura se tornou para mim uma melhor amiga e me sentia feliz por isso. Ela me conhecia a fundo e eu a conhecia de igual.
Os anos se passaram e todos a minha volta começaram a morrer, morte por conta da idade, ou em batalhas. Triste mesmo assim.
E para que eu não me sentisse sozinha por toda a eternidade, resolvi criar este diário, onde estou contando a vocês o inicio da historia de minha vida. Sabe a quanto tempo já estou viva com a aparecia de uma garota de 16 anos? A trinta anos. É isso ai. Tempo para caramba.
Se tem uma coisa que eu aprendi nesses quarenta e seis anos que estou viva, é que não devemos por o amor em primeiro lugar quando se hospeda um espírito poderoso. Isso poderia ter me matado. Alias, nos matado né Ashura?