segunda-feira, 30 de maio de 2011

Coração De Gelo




Em todo o reino sempre existe uma bela princesa cobiçada por todos e odiada por alguns. A grande verdade é que muitos também se apaixonam por ela e pensam em se tornar alguém da realeza. Alguns tentam atentados contra a segurança da amada mas acabam torturados ou coisa pior... mas nem todas são felizes. Sempre são prometidas em casamento por um velho prestes a morrer ou a um jovem com vontade de ser o próximo ‘rei do mundo’. No caso de Fiore, ela tirou uma carta dupla. Foi prometida em casamento a um velho de quarenta anos que quer ser o próximo ‘rei do mundo’.
O que nunca a perguntaram é se ela era apaixonada por alguém ou se até mesmo queria se casar com o Rei do Sul. Porem, sendo a Princesa do Norte, se via obrigada a aceitar a proposta para evitar uma futura guerra dos mil anos igual já houve anteriormente. Mas ela não se importava muito com a ideia de ver cabeças rolando e o chão ensopado de sangue. Ela queria ser livre, casar com quem ela escolhesse.
Quando Fiore rejeitou a proposta pessoalmente sem interjeição dos pais, o Rei George atacou a cidade e por fim, invadi o palácio e matou seus pais. Transtornada, resolve congelar seu corpo, seu coração levando a cidade para o absoluto gelo eterno até que alguém que merecesse ser Rei ao seu lado a acordasse. No decorrer do congelamento, algumas pessoas tentavam fugir da cidade, mas todos que possuíam o sangue congelou e muitos foram parar em cidades onde se quer sabiam de sua existência.



Na verdade, a maioria das historias são contadas por aqueles que a fazem acontecer, mas desta vez, quem contará... será alguém que participou...mas de fora. Meu avô sempre me contava esta historia antes de dormir. E eu sempre acreditei que talvez um dia encontrasse está cidade e descongelasse a princesa Fiore. Nunca me vi apaixonado por um historia enquanto eu era por esta.
Eu sempre gostei de aventuras, e depois que meu avô se foi, comecei as buscas pela cidade do norte. A cidade congelada. Está passou a ser minha ‘Atlântida’. Minha cidade do gelo.
No entanto não foi fácil. Muitos a buscavam. Eu me encontrava próximo a Rússia quando nas extremidades tropecei em uma pedra. A principio, supus ser uma pedra. Quando me levantei e olhei... era um corpo congelado. Inerte, até morto. Como todo bom homem samaritano recolhi o corpo da criança e a levei ao instituto de pesquisa. Fiquei na sala de espera e o tempo não passava. Até que um senhor baixo e corcunda se aproximou.

- Pois não? – perguntei.

- Como se chama? – retrucou o velho.

- Leon. E o senhor?

- Luigi. Sou o medico legista que examinou o corpo. Porem...

- O que? – perguntei na esperança de ser algo do qual eu procurava.

- A criança está viva. Mas congelada de uma forma que nem mesmo nós, médicos, sabemos como. E ao que tudo indica ela estava com os pais. Ninguém fugiria assim sozinho.

Não tive muito tempo para processar o que o Dr. Luigi dizia. Peguei meu casaco e meu equipamento e sai porta a fora. Até me lembrar que precisava cuidar da menina. Voltei e coloquei a cabeça. O medico me olhava pensativo.

- Cuide dela por mim. – gritei em meio a tempestade de neve que ocorria na cidade.

- Qual seu sobrenome, meu jovem? – perguntou ele.

- Sulivan.

E sai em direção ao frio intenso. Entrei no carro e atravessei a cidade indo mais para o norte. Estacionei o carro na mesma vaga onde estava antes de levar a menina e segui andando. Os ventos me açoitavam mas não desisti. E a cada passo que dava, ficava mais atento ao fato de achar os pais da menina. Porem, não achei nada.
Já estava anoitecendo então comecei a construir meu iglu. Não era difícil mas também não era fácil cortar cubos de gelo em meio a uma tempestade de neve. Depois de uma hora cortando gelo terminei meu acampamento provisório e entrei. Me acomodei e liguei uma lamparina e fechei a entrada. Estava muito frio.
Peguei o meu diário e uma caneta e comecei a escrever. Contei-lhe sobre o dia. E sobre o fato de ter encontrado uma criança congelada. Na faixa dos onze anos de idade. Depois de relatar meu dia no diário de viagem, me encostei no saco de dormir e fiquei olhando para cima.
Nunca havia parado para pensar em uma real existência da cidade. No inicio, acreditava ser apenas ideia maluca que eu tinha. Mas agora estava provado que era verdade. Que existia. Mas também evitava pensar no por que a princesa para evitar casar-se com George congelou a cidade inteira e fez com que fosse esquecida no mapa... ela poderia apenas ter se congelado...
Fiquei discutindo por horas no meu interior está questão. Se ela se congelou, no mínimo o Rei do Sul arrumou um jeito de se manter vivo com o tempo para pegar a princesa assim que ela acordasse. Por fim acabei pegando no sono e dormindo. Estava muito frio para queimar neurônios atoa.
Acordei pela manha esperando que a tempestade tivesse passado, mas não passou. E também não poderia parar minhas buscas. Com muito custo sai do iglu e fiz uma fogueirinha. Esquentei meu café e comi. Logo juntei minhas coisas e continuei andando ainda mais em direção ao norte.
Caminhei e não conseguia ver nada a minha frente. Tentei olhar o livro onde continha um pequeno mapa onde segundo os historiadores poderia ser o reino da cidade de gelo. Era difícil ver com toda aquela tempestade. Mas estava mais ao norte.
Conforme eu caminhava a tempestade se tornava mais densa, com ventos violentos. Como que se não me quisesse por perto. Como se não quisesse ser descoberta. Andei por horas e quando olhei no relógio já iria anoitecer novamente. Por sorte, adiante havia uma caverna... procurei ir até lá o mais rápido possível e passar a noite. Fui para o fundo, fiz uma fogueira e entrei no saco de dormir.
Mais uma vez escrevi em meu diário e logo depois me enterrei em um sonho profundo. Sonhei com meu avô me contando a historia da cidade. Dormi por horas, segundo meu relógio, até o meio dia. Fiz novamente a fogueira para esquentar meu almoço. Arrumei minhas coisas e parti ainda mais para o norte. Já se passaram dois dias que parti da cidade. Eu deveria estar próximo da cidade, tinha de estar...
Quando sai da caverna não nevava, mas a três metros de mim havia uma mulher. Fiquei com receio de me aproximar. Mas era bonita. Com belas curvas também... ela se aproximou um pouco. Ficamos então a poucos centímetros de distancia. Ela estava quase nua, com apenas um pano que mais parecia um vestido tomara-que-caia com uma faixa na cintura presa com um broche de diamante na forma de estrela.

- Qual seu...? – tomei coragem para perguntar mas logo me cortou.

- Frost. Agora saia daqui. – respondeu grossa.

- Não sente frio? E por que eu deveria ir? – perguntei.

- Não. Agora saia. Ninguém o quer aqui.

A ignorei e subi para o norte. Não iria ficar discutindo com minha imaginação. No mínimo o frio intenso havia feito com que eu tivesse alucinações. Parei para ajeitar a mochila nas costas e então a tempestade voltou com mais intensidade do que antes. De fato, não me queriam aqui. O que significava que a cidade estava próxima.
Segui em frente ainda mais. A motivação me levava para o norte enquanto meu corpo queria ficar parado e morrer na tempestade. Então uma rajada de vento ricocheteou meu rosto deixando um filete de sangue no qual congelou rapidamente. Então a neve parou. E mais adiante formou-se um redemoinho de gelo. Pensei em correr mas logo ele se dissipou e apareceu novamente aquela mulher chamada Frost.

- O que você quer? – perguntei irritado pelo corte no rosto.

- Que saia! – respondeu tranquilamente.

- Não vou sair. – bati o pé e afundei no gelo caindo em um calabouço. – onde eu tô? – gritei.

E então a imagem fantasmagórica da mulher apareceu a minha frente. Estava mais viva. Com mais cor eu diria. Na neve ela era branca, quase impossível de vê-la. Agora estava com uma cor normal. Mais para as pessoas de onde eu vim. Seus cabelos eram negros, lisos e grossos até o quadril. Era mais baixa que eu. Mas era mais bonita agora.
Fiquei olhando para ela esperando que me respondesse onde eu estava. Mas apenas levantou a mão e me ajudou a ficar em pé. Depois me deu as costas e seguiu pelo túnel. A segui. Não iria ficar aqui sozinho. Vai saber que tipo de bicho ou rato venenoso tinha. Depois de alguns minutos de caminhada chegamos a uma saída. Um salão, eu diria.

- onde eu tô? – perguntei meio perdido olhando para a beleza do lugar.

- Está é a cidade de gelo. Está sou eu.

- Mas seu nome é Frost.... – e então fiquei olhando para ela. Que me lançava um olhar me chamando de idiota. – ah... ok. Mas você é humana.

- Não. Eu fui criada para proteger a cidade enquanto a princesa dorme.

- Mas... George ainda vive. Por isso ela ainda não acordou. Não é?

- Não seja tolo, garoto. George morreu a anos depois de querer brigar com o Reino do Sol.

- Então por que ela ainda não acordou?

- Por que o mundo mudou. Já fazem cem anos.

- Isso não muda os fatos, seja lá quem você for. Essas pessoas não podem ficar congeladas.

- Mas é claro que podem.

- Logico que não. São humanos...seus sentimentos devem ser levados em conta.

- E com que finalidade? – seus olhos me fitaram com certa duvida. – Sentimentos foram feitos para machucar, não senti-los é um privilegio.

- Sabe – olhei para o fundo de seus olhos sem esperar ver algo humano dentro deles. – as vezes me esqueço que você não tem alma. – e sai andando em busca dos aposentos da
princesa.

Sem dizer uma única palavra Frost seguiu atrás de mim. Andei muito, analisando cada mínimo detalhe. Como que todos os pesquisadores nunca haviam percebido que uma cidade estava em baixo de todo aquele gelo? Morreriam também se dependessem dessa sombra que me segue. Só queria saber por que ainda não havia me congelado ou incinerado.
Ouvi passos pesados se aproximarem. Mas não considerei o fato de ser uma pessoa. Apenas senti Frost me puxar pelo braço e me esconder em um armário junto a ela. Logo vi a sombra de um casal de tigres com armaduras transparentes passarem. Um deles olhou para o armário mas desconsiderou a ideia de vida humana. Assim que se foram, saímos do armário. Olhei para ela aturdido.

- O que são aqueles animais?

- Tigres. Você é cego? – ficou me olhando.

- Sei que são tigres. Mas o que fazem aqui?

- A princesa sabe que apenas uma pessoa não cuidaria de tudo isso. Então enfeitiçou os animais para guardarem a cidade.

- Do que é feito as armaduras?

- Uma joia. Feita da essência humana. Nenhuma arma de fogo ou magia barata atravessaria a armadura.

- Essência... você diz... alma?

- É.

- Ela matou pessoas para fazer as armaduras?

- Matou. – ficou me olhando como se eu fosse um babuíno.

- Não me olhe com essa cara. Como ela poderia matar pessoas?

- Quem desrespeita a realeza merece a morte, meu jovem.

E então seguiu andando pelo corredor. A segui. Não iria ficar ali parado esperando virar comida de tigre. Mas nada me saiu da cabeça como ela poderia ser tão má e cruel. As historias que meu avô me contava... parecia ela ser a pessoa mais doce do mundo e perdoar as pessoas. Claro que quando seus pais foram assassinados fez com que ela se tornasse mais fria a sentimentos mas nada que matasse um ser humano pra transformar feras em armas ainda mais letais e indestrutíveis.
A segui pelo que me pareceu uma eternidade. Atravessamos a cidade inteira, o que demorou muito, e finalmente chegamos ao palácio. Bem em frente, na escadaria, havia duas estatuas da princesa. A da direita, ela empunhava uma espada sendo apontada para a cidade e na da esquerda, um arco e flecha. No que nos aproximamos, foi como que se os olhos das estatuas me olhassem e tentassem me decifrar. Procurei evitar os olhares e a segui escada a cima. Quando entramos fechei as portas mais que de pressa.
Mesmo eu estando em seu encalço ela não falava nada e eu também não perguntava. Subimos novamente as escadas e atravessamos outro imenso corredor. Já estava começando a ficar cansado, com fome e com frio. Então me aproximei e coloquei a mão em seu ombro. Ela parou e pareceu gelar. Pensei que esse era o momento em que eu seria incinerado mas então ela apenas tirou minha mão do ombro e se virou para mim. Como que se lesse meus pensamentos.

- Já estamos chegando e poderá descansar e vislumbrar algo que apenas um mortal viu até então.

Se virou novamente e continuou a andar. Não acreditei quando disse que eu seria o segundo humano. Então... paramos em frente a uma porta no final do corredor. Era simplesmente lindo a porta. Toda trabalhada em ouro e gelo. Ela bateu e então uma voz familiar perguntou quem era. Ela respondeu ser quem era e então o homem a abriu. Quando gelei.

- Era pra você estar morto. – foi a única coisa que consegui dizer.

- Mas não estou. – não demonstrou nenhuma alegria ao me ver.

- Eu vi você ser enterrado. – quase cai sentado se não fosse Frost me levar para
dentro do aposento e eu ver uma linda mulher deitada na cama dormindo o que poderia dizer o melhor sonho possível. Pelo menos ao seu redor o mundo não estava desmoronando.

Fui obrigado a me sentar em uma cadeira se não eu mesmo me congelaria. Ela era realmente linda. Me senti tentado a beija-la mas sabia dos riscos. Mas decorrente do que estava vislumbrando, a morte era a mais aceitável.

- Exijo explicações. – foi a única coisa que consegui dizer.

- OK. Eu não morri como pode ver. Quem é aceito nesta cidade não envelhece. Frost me entregou um pergaminho escrito pela própria alteza. – e então estendeu a mão a cama e depois se voltou para mim. – Quem Frost achasse digno de entrar na cidade poderia acordar a princesa. Só que eu nunca poderia dizer isto a minha família, me achariam um louco e eu rezava todos os dias para que você não seguisse por este caminho que o trouxesse onde esta. Para acordar a princesa Fiore exige sangue, e sangue fresco.

- E agora vai sacrificar seu querido neto. – estendi os braços com um fino desejo de esgana-lo nos olhos.

- Não seu sangue. Para dar certo ela teria que se apaixonar por você. Então você teria de beija-la. Se não congelar, usaríamos apenas um pouco do seu sangue para acorda-la.

- Ficou louco? Por que ela se apaixonaria por mim?

- Por que você passou sua vida inteira apaixonado por um livro, sobre uma princesa congelada em busca do seu príncipe encantado. Ora Leon, todos nesta sala sabemos que ela não te ama, mas o fato de você ama-la e não cobiçar o trono pode traze-la a vida.

- Claro que pode né? Para ela matar mais pessoas e fazer de suas almas armaduras para feras insanas.

- Não importa. Essas pessoas não podem ficar congeladas para sempre.
Continuei sentado, sem responder se aceitaria ou não. A está altura do campeonato não sabia mais se ainda a amava, se ainda merecia todo o amor e dedicação que nela depositei. Nela eu depositei todos os meus anos na faculdade, todos os dias de minha vida eu procurei pela cidade, pela princesa. E agora estou aqui, ao seu lado e não tenho coragem de beija-la pelas coisas que fez. Então depois de muito pensar, me levantei e fui até ela. Se fosse para morrer, preferia que fosse congelado sem ser traído pelo avô que eu tanto amava.
Fiquei parado, a centímetros de seus lábios. Todos me olhavam com expectativa. Peguei o punhal que estava em minha jaqueta e passei por meus lábios. Senti o sangue quente escorrer e então olhei para Frost e meu avô.

- Se essa louca for acordar e continuar sendo a pessoa mais cruel que eu vi por toda essa cidade, prefiro não estar vivo. Dói menos estar morto.
Então me abaixei e toquei seus lábios. Foi como beijar o gelo mais intenso e solido e imortal. Ela não esboçou reação. Quando me afastei, ficamos a olhando. Sua boca estava cheia de sangue. Do meu sangue.
Pude ver, bem de leve, seu peito de estufar. Como se puxasse ar. Aos poucos apertou os olhos e os lábios. Ela era linda com seus eternos vinte e dois anos. Morena e alta. Quando seus olhos se abriram, eram como alabastro. Se levantou com dificuldade e se sentou. Meu avô e Frost de curvaram mas permaneci em pose se protesto.
Seus olhos me fitaram mas ela mesma nem se moveu.

- Não peço que se curve, seria contra sua natureza hostil. – sua voz saiu rouca mas ainda com classe.

- Meu sangue...

- Posso saber tudo o que se passou em sua mente até o beijo. Até provar seu sangue.

- Seus olhos... exotivos..

- Sou única. – e então, ainda fraca veio em minha direção e pude sentir sua respiração se envolver com a minha. – sabe, não gosto que me chamem de louca, ainda que eu não saiba o que significa isso.

- Desequilibrada. Essa você conhece? – não pude deixar de notar o ar a minha volta de condensando e o frio eterno se estabelecendo a minha volta. – E é agora que você me mata.

- Não vou mata-lo. Você é meu rei. Mas já que não quer assumir o trono, ficara congelado nele.

Ela me tocou então. No peito e senti meu coração parar. Senti-o congelar aos poucos até que se tornasse gelo. Respirei pela ultima vez antes do meu pulmão parar e ficar congelado. Ela veio e me beijou nos lábios. Foi mais terno que o primeiro com sangue. Foi como que se minha alma estivesse sendo congelada depois deste ato. Senti-a morder meus lábios até sangrarem e depois se afastou. Deslizou suas mãos em meu corpo em busca do meu diário que logo o achou no bolso da minha calça. O abriu e pingou nele as gotas de meu sangue. E letras apareceram com todos os meus pensamentos nele. Ela o fechou e me abandonou.

- Guarde isto com os meus livros preferidos Frost. – e entregou a moça.

- Claro Alteza.

- Vá curtir sua eternidade bom senhor. Foi-me muito útil e merece o que quiser. – então passou por meu avô que estava parado me olhando. Processando ainda o que havia visto.

A bela princesa Fiore saiu do quarto com toda sua classe em seu vestido vermelho meio transparente de pano leve e se foi para onde eu jamais a veria novamente. Ou veria... se um dia eu quisesse ficar ao seu lado. Mas eu sempre irei amar aquela cujo coração é mais duro que um diamante e mais frio que o próprio gelo eterno.